sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Aquecimento global e desastrologia: a ficha ainda não caiu !


Colaborador: Roberto Rocha

Começou a esquentar outra vez. No entanto, ao contrário do aquecimento global, a discussão na África do Sul foi chuva muito fina. Novas promessas de que as promessas anteriores serão revistas para que novas promessas sejam feitas. A grana não caiu! Enquanto isso, em Belo Horizonte, choveu em cinco horas o que era esperado para cinco dias. E tome inundação, e tome desabamentos, e tome desabrigados. Já está ficando cansativo ficar falando das mesmas coisas no verão. E a casa caiu!  A vitivinicultura tomou uma série de pedradas geladas no Rio Grande do Sul e os prejuízos são relevantes. O gelo caiu! As estruturas metálicas de galpões no Brasil terão que ser recalculadas para resistirem a maiores pesos em telhados e ventos mais fortes. Quem não acreditar, vai pagar para ver. E o teto caiu! As áreas de risco já não são mais de risco, são de certezas claramente anunciadas. E a encosta caiu! Ninguém aguenta cair tantas vezes! Ou será que aguenta! Lembro bem que há alguns anos falava da necessidade de estudar "desastrologia" e algumas pessoas me perguntavam: o que é isso? Falava que a Defesa Civil tinha 118 símbolos que deveriam ser conhecidos nas escolas, e as pessoas falavam: as crianças precisam é de comida e de diversão: "não devemos ficar falando de desgraças climáticas para alguém que mal começou a vida". Realmente, as consequencias das mudanças do clima já não são apenas comentadas: elas estão acontecendo na nossa cara!. E a ficha ainda não caiu. No ano que vem teremos a Rio+20.  Posso parecer um tanto pessimista,  mas as notícias estão aí ! Os fatos estão aí! O que falta para se levar em consideração que temos sim que valorizar e preservar o funcionamentos dos ecossistemas ?. Precisamos falar muito de "serviços ambientais". Mas não aqueles pagos por empresas que prestam serviços !  O ar mais quente anuncia que os insetos ficarão mais agitados. Vão se reproduzir com maior rapidez. Suas larvas também. Algumas doenças  aumentam suas incidências nos períodos mais quentes. Por enquanto, estamos falando de dengue. Escorpiões e aranhas estão em alerta.  Cupins e formigas também. Bactérias e virus ficam mais agitados. Uma coisa devemos aprender: a Natureza não aceita dinheiro, mas cobra caro...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Violadores de túmulos e comedores de cadáveres?



Colaborador: Roberto Rocha

Estava refletindo sobre o modo de lidar com os mortos humanos. Ainda me lembro dos "enterros" na minha infância, quando o defunto era velado - cercado de velas - numa mesa central, na sala principal da casa, com as pessoas encostadas nas paredes, sentadas nas cadeiras, espalhadas  aqui e ali, entre comentários diversos, silêncios e lágrimas. Água com açúcar para acalmar alguém, afagos, olhares compreensivos. Se o morto era do tipo "divertido", não raro, rolava até um certo clima de alegria. Na hora devida, parentes e amigos mais íntimos seguravam as alças do féretro, que seguia pela rua principal em direção ao cemitério local. Comerciantes baixavam suas portas pela metade, em sinal de respeito, enquanto outros tiravam o chapéu. Pelo caminho, uma verdadeira procissão ia se formando, dependendo do "prestígio" do falecido. Capela, flores, encontros antigos - alguns não muito amigáveis - olhares desencontrados, passagens vividas, elogios, críticas disfarçadas, orações, discursos, desmaios.  Hora da despedida: mais lágrimas e ambiente tenso na hora do fechamento. Coroas e  saudades dos amigos; a caminhada silenciosa, e a cova aberta. O pó branco da paz e as pétalas de rosas. Mais lágrimas e ambiente mais tenso ainda. A percepção derradeira da perda e do que realmente somos: frágeis criaturas com prazo de validade mais ou menos conhecido. Cordas, tampa, cimento e a eternidade.  Alguns anotam o número da sepultura por diversos motivos,,,

Enquanto estava pensativo, na frente da TV, eis que um repórter anuncia um sério acidente ocorrido no mar. Uma imensa mancha de cor metálica é mostrada, com seu brilho fúnebre e pegajoso. De onde veio? Como chegou até ali? Para onde será que vai? De quem suspeitar? Após algum tempo, uma autoridade local faz a sua declaração oficial: estávamos diante de restos de milhões de defuntos que haviam sido sepultados num passado distante! Desconsiderando o seu direito de descançar eternamente em seus bolsões geológicos, alguém resolveu enterrar algumas agulhas na pele de Gaia para retirar seu sangue negro adormecido. Estamos abrindo caixões lacrados por muitos séculos. Incomodando quem já tinha cumprido sua missão. Despertando quem não desejava acordar mais. Quem não queria estar entre nós, outra vez. E agora? O que fazer com esses mortos tão antigos? Sem ossos, sem fibras! Eles não foram enterrados sem motivos! Não deveriam sair de lá. Alguma razão deve existir para que tenham sido guardados tão profundamente. Por que desrespeitar tal destino? Se violar túmulos é um sacrilégio, o que se dirá de revolver milhões de defuntos, de uma só vez? Para que finalidade? Lucrar com eles? Será que devemos negociar corpos alheios? Acho que não deveríamos vender o corpo de nenhum morto, mesmo que ele não seja humano. Mas voce poderá contestar: mas o que são os frutos  e legumes que comemos todos os dias, senão mortos? Eu lhe responderia: mas as sementes estão vivas! E voce pode insistir: mas nós comemos carne vermelha morta! Comemos peixes mortos! Comemos frangos mortos! Finalmente vou concordar: somos comedores de cadáveres alheios! Não comemos coisas "podres", mas comemos cadáveres frescos de toda espécie. Nossa cultura sempre dá um jeito de transformar coisas desagradáveis em eventos especiais - quando interessa. Um esplendoroso jantar! Arte gastronômica! Pratos deliciosos! Tudo bem, tudo bem! Afinal não vou deixar de saborear meus cadáveres prediletos - de vegetais ou de animais -  por causa de um artigo desconcertante. Também não pretendo ser um violador de túmulos, por usar a energia de quem já morreu para "alimentar" meu carro. Nos ensinaram a respeitar apenas os cadáveres de humanos.  Algumas sociedades rezam antes de comer um alimento ou parte dele (cadáver), seu sustento.  Nossa cultura não valoriza este tipo de consideração. Muitas vezes nem sabemos o que estamos comendo realmente. Ficamos sentados olhando para a TV num restaurante, ou falando de negócios, problemas de família, criticando colegas ou o chefe, contando decepções e  tantos outros temas. Os mais sábios falam de coisas agradáveis, viagens, casos amorosos excitantes, novos empregos. A última coisa que estamos concentrados é nos cadáveres que deram os seus corpos para a nossa vida. Nós não os identificamos como tal.  Foram rotulados como "alimentos". Dá próxima vez que for comer alguma coisa, pense que "alguém" está doando para voce uma parte dele ou toda a sua vida. Se puder, agradeça-lhe! Faça da refeição um ato sagrado. Afinal voce também será cadáver um dia. E vai gostar  que alguém o valorize - entre amigos, antes que seja um excelente repasto para bactérias  e um incrível mundo de "degustadores" desconhecidos...