Colaborador Roberto Rocha
Fatos recentes, que envolveram situações internacionais do tipo Copenhague em 2009; e alguns eventos regionais e locais - como escorregamentos (ou deslizamentos) e alagamentos verificados na região sudeste brasileira (MG,RJ,SP) - nos deixam de luto. Por dois motivos: em Copenhague devemos lamentar a perda da sensibilidade em relação à importância da biodiversidade; e no Brasil, a perda de entes queridos e patrimoniais, numa visão mais imediata e próxima. O que perdemos em Copenhague foi um momento de iniciar 2010 com uma visão mais realista do que somos: biologicamente constituídos, ecologicamente dependentes e culturalmente curiosos.
No Vale do Paraíba e no litoral, assistimos, mais uma vez, às manifestações da natureza, em suas “acomodações” geológicas. Elas simplesmente desconhecem os nossos interesses particulares, por mais bem intencionados que sejamos. A questão é que o planeta “funciona” através de regras muito antigas, integradas e dependentes. Nada acontece sem que algum “transtorno” se verifique e, logo se estabeleça um novo cenário para fazer voltar tudo aos seus lugares, ao que podemos chamar de equilíbrio homeostático. Não há como mudar isso! Mesmo as intervenções humanas para tentar “copiar” esses processos, são eventos provisórios. No final, a experiência e a “inteligência” de Gaia ganha da inteligência humana, por uma razão bem conhecida dos economistas: tradição. Você pode procurar onde quiser! Não encontrará nenhum sistema tão antigo, eficiente e eficaz, para administrar tantas variáveis e eventos, num só tempo, perfeitamente harmônicos. É algo muito especial e maravilhoso!. É para sentar e ficar admirando, boquiaberto! Quem faz isso? O que admiramos em nossas correrias diárias? Que tempo separamos, do nosso dia, para meditar sobre a vida e sobre o mundo em que vivemos? Sobre suas estratégias! Vamos correndo ligar a direcionada televisão - para “saber o que está acontecendo”. Quem sabe dar uma lida no jornal? Ou ainda, conectar-se em rede, via internet?. Sentir aquela sensação de liberdade, e conhecer e comentar o que alguém disse e o que alguém fez, incluindo nós mesmos? E tudo volta a ser igual: fatos triviais, fofocas, intrigas e tudo que possa interessar “ao indivíduo”. É normal que nosso pensamento parta do individual para o coletivo.
O que podemos estranhar é que esse coletivo não considere como prioridade, as questões ambientais, em especial, os “serviços ambientais”. Serviço para nós, é algo que alguém nos oferece em troca de dinheiro ou de alguma vantagem “particular”. A natureza também trabalha com vantagens, mas são todas “coletivas”. Essa é a grande diferença!. Ela não é apenas “curiosa”, ela procura soluções compatíveis com o “todo”. Ela não inventa, ela já sabe o que fazer, instintivamente. Por que nós praticamos tão pouco a nossa intuição e a substituímos por orientações alheias, tecnológicas e científicas? Mesmo sendo criaturas sociais, que vivem e negociam o que fazer em grupo, não quer dizer que tenhamos que fazer isso todo o tempo! Responda lá: quanto tempo você separa – do seu dia - para meditar e pensar sobre o seu papel no mundo e como o mundo administra a vida? Imagino que muito pouco. A maioria vai responder que “não tem tempo” para essas coisas! Imagine: nós não separamos um tempo para pensar no que é vital para nós e para todos: o equilíbrio ambiental. Sem ele, não temos muita chance de permanecer no jogo da vida. Vamos ser eliminados por incompetência ecológica, apesar de nos “acharmos” a criatura mais inteligente da Terra.
A partir da Idade Moderna – em especial - e com base na metodologia científica, começamos a dar asas à imaginação e à inovação. Animais não inovam. Eles repetem o que deve ser ótimo para todos. Se assim não fizerem serão retirados do sistema, automaticamente (esse termo é horrível!). Você pode achar que a vida se torne enfadonha e sem graça se apenas ficarmos repetindo tudo, da mesma forma, todos os dias. Esse é o maior desafio humano! Mas, cabe também uma reflexão: e se o que estamos fazendo – para tornar a vida “mais interessante” - vier a nos destruir? Qual a lógica? As criaturas do mundo procuram salvaguardar suas vidas! Eu desejo um ar puro para respirar, certo? Uma água boa para beber, certo? Alimentos que não tenham substâncias que possam me fazer mal, certo? E por que nós poluímos tudo isso? Para justificar a nossa capacidade intelectual? Ou será que a intelectualidade poderia ser praticada num outro sentido? Se nós somos criaturas biologicamente constituídas, deveríamos aceitar a idéia de que tudo que for biológico deve ser bom para nós e para todos. Além disso, sabendo que somos seres ecologicamente dependentes, deveríamos zelar para que o sistema fosse sempre saudável, certo? E por que concordamos com tudo isso e continuamos a fazer o contrário? Por que Copenhague não foi um sucesso? Por que construímos – ou permitem que possamos construir – moradias em áreas de alto risco? Desconhecimento técnico? Falta de fiscalização? Falta de educação ambiental? Desigualdade social? Falta de poder decisório? Falta de respeito à legislação vigente? Será que por trás disso tudo, não estará aquele vírus infeccioso da curiosidade desafiante, própria da nossa espécie, mas destituída do necessário bom senso? Do equilíbrio? Do trato ético com as coisas públicas? A sociedade tem uma idéia clara das razões pelas quais devemos zelar tanto pelo que é público quanto pelo que é privado? Ou somente valorizamos o que é particular?
Nosso sistema de ensino nos leva a pensar mais no interesse público ou no interesse privado? Isso faz alguma diferença no comportamento dominante? Colhemos o que plantamos. O que queremos afinal? O tempo está se esgotando. A tecnologia revolucionou as atividades humanas e nos tornou “brilhantes” criaturas. Acumulamos títulos e bens. A questão é que os espaços nos cemitérios estão cada vez mais curtos, e não sei se vai sobrar lugar para nós mesmos, de tanta coisa que inventamos. Mas uma coisa é certa: os decompositores vão entrar em cena – mais uma vez - e demonstrar na prática, que no fim de tudo, o biológico vai predominar: silenciosa e humildemente, apesar de toda a nossa gritante e invejável tecnologia. Por outro lado, estamos ficando preocupados com a impermeabilização dos solos das cidades e sesus arredores: estamos extinguindo bactérias e fungos importantes nos processos de decomposição. Bilhões e bilhões de microorganismos estão sendo soterrados e concretados dia e noite. Os serviços de cremação terão que ser extendidos a todos como medida sanitária indispensável. Evitaremos assim que tenhamos que passar uma boa parte do dia caminhando sobre cadáveres que não apodrecem, de pessoas, de bichos, de plantas e tudo mais que precise ser reciclado como matéria biológica. Pode parecer um tanto macabro, mas não é nenhuma ficção. É fato real ! Já percebemos isso - claramente - durante as enchentes e alagamentos que se repetem cada vez com maior intensidade. As cidadas estão cada vez, mais impermeabilizadas...
Somos biologicamente constituídos e ecologicamente dependentes. Qualquer proposta diferente irá de encontro ao óbvio e ao razoável, até beirar a insanidade cega, exatamente por desconhecermos a sensatez, que deve guiar as nossas ações e nos mostrar caminhos menos radicais onde haja espaço para todos, equilibradamente.
No Vale do Paraíba e no litoral, assistimos, mais uma vez, às manifestações da natureza, em suas “acomodações” geológicas. Elas simplesmente desconhecem os nossos interesses particulares, por mais bem intencionados que sejamos. A questão é que o planeta “funciona” através de regras muito antigas, integradas e dependentes. Nada acontece sem que algum “transtorno” se verifique e, logo se estabeleça um novo cenário para fazer voltar tudo aos seus lugares, ao que podemos chamar de equilíbrio homeostático. Não há como mudar isso! Mesmo as intervenções humanas para tentar “copiar” esses processos, são eventos provisórios. No final, a experiência e a “inteligência” de Gaia ganha da inteligência humana, por uma razão bem conhecida dos economistas: tradição. Você pode procurar onde quiser! Não encontrará nenhum sistema tão antigo, eficiente e eficaz, para administrar tantas variáveis e eventos, num só tempo, perfeitamente harmônicos. É algo muito especial e maravilhoso!. É para sentar e ficar admirando, boquiaberto! Quem faz isso? O que admiramos em nossas correrias diárias? Que tempo separamos, do nosso dia, para meditar sobre a vida e sobre o mundo em que vivemos? Sobre suas estratégias! Vamos correndo ligar a direcionada televisão - para “saber o que está acontecendo”. Quem sabe dar uma lida no jornal? Ou ainda, conectar-se em rede, via internet?. Sentir aquela sensação de liberdade, e conhecer e comentar o que alguém disse e o que alguém fez, incluindo nós mesmos? E tudo volta a ser igual: fatos triviais, fofocas, intrigas e tudo que possa interessar “ao indivíduo”. É normal que nosso pensamento parta do individual para o coletivo.
O que podemos estranhar é que esse coletivo não considere como prioridade, as questões ambientais, em especial, os “serviços ambientais”. Serviço para nós, é algo que alguém nos oferece em troca de dinheiro ou de alguma vantagem “particular”. A natureza também trabalha com vantagens, mas são todas “coletivas”. Essa é a grande diferença!. Ela não é apenas “curiosa”, ela procura soluções compatíveis com o “todo”. Ela não inventa, ela já sabe o que fazer, instintivamente. Por que nós praticamos tão pouco a nossa intuição e a substituímos por orientações alheias, tecnológicas e científicas? Mesmo sendo criaturas sociais, que vivem e negociam o que fazer em grupo, não quer dizer que tenhamos que fazer isso todo o tempo! Responda lá: quanto tempo você separa – do seu dia - para meditar e pensar sobre o seu papel no mundo e como o mundo administra a vida? Imagino que muito pouco. A maioria vai responder que “não tem tempo” para essas coisas! Imagine: nós não separamos um tempo para pensar no que é vital para nós e para todos: o equilíbrio ambiental. Sem ele, não temos muita chance de permanecer no jogo da vida. Vamos ser eliminados por incompetência ecológica, apesar de nos “acharmos” a criatura mais inteligente da Terra.
A partir da Idade Moderna – em especial - e com base na metodologia científica, começamos a dar asas à imaginação e à inovação. Animais não inovam. Eles repetem o que deve ser ótimo para todos. Se assim não fizerem serão retirados do sistema, automaticamente (esse termo é horrível!). Você pode achar que a vida se torne enfadonha e sem graça se apenas ficarmos repetindo tudo, da mesma forma, todos os dias. Esse é o maior desafio humano! Mas, cabe também uma reflexão: e se o que estamos fazendo – para tornar a vida “mais interessante” - vier a nos destruir? Qual a lógica? As criaturas do mundo procuram salvaguardar suas vidas! Eu desejo um ar puro para respirar, certo? Uma água boa para beber, certo? Alimentos que não tenham substâncias que possam me fazer mal, certo? E por que nós poluímos tudo isso? Para justificar a nossa capacidade intelectual? Ou será que a intelectualidade poderia ser praticada num outro sentido? Se nós somos criaturas biologicamente constituídas, deveríamos aceitar a idéia de que tudo que for biológico deve ser bom para nós e para todos. Além disso, sabendo que somos seres ecologicamente dependentes, deveríamos zelar para que o sistema fosse sempre saudável, certo? E por que concordamos com tudo isso e continuamos a fazer o contrário? Por que Copenhague não foi um sucesso? Por que construímos – ou permitem que possamos construir – moradias em áreas de alto risco? Desconhecimento técnico? Falta de fiscalização? Falta de educação ambiental? Desigualdade social? Falta de poder decisório? Falta de respeito à legislação vigente? Será que por trás disso tudo, não estará aquele vírus infeccioso da curiosidade desafiante, própria da nossa espécie, mas destituída do necessário bom senso? Do equilíbrio? Do trato ético com as coisas públicas? A sociedade tem uma idéia clara das razões pelas quais devemos zelar tanto pelo que é público quanto pelo que é privado? Ou somente valorizamos o que é particular?
Nosso sistema de ensino nos leva a pensar mais no interesse público ou no interesse privado? Isso faz alguma diferença no comportamento dominante? Colhemos o que plantamos. O que queremos afinal? O tempo está se esgotando. A tecnologia revolucionou as atividades humanas e nos tornou “brilhantes” criaturas. Acumulamos títulos e bens. A questão é que os espaços nos cemitérios estão cada vez mais curtos, e não sei se vai sobrar lugar para nós mesmos, de tanta coisa que inventamos. Mas uma coisa é certa: os decompositores vão entrar em cena – mais uma vez - e demonstrar na prática, que no fim de tudo, o biológico vai predominar: silenciosa e humildemente, apesar de toda a nossa gritante e invejável tecnologia. Por outro lado, estamos ficando preocupados com a impermeabilização dos solos das cidades e sesus arredores: estamos extinguindo bactérias e fungos importantes nos processos de decomposição. Bilhões e bilhões de microorganismos estão sendo soterrados e concretados dia e noite. Os serviços de cremação terão que ser extendidos a todos como medida sanitária indispensável. Evitaremos assim que tenhamos que passar uma boa parte do dia caminhando sobre cadáveres que não apodrecem, de pessoas, de bichos, de plantas e tudo mais que precise ser reciclado como matéria biológica. Pode parecer um tanto macabro, mas não é nenhuma ficção. É fato real ! Já percebemos isso - claramente - durante as enchentes e alagamentos que se repetem cada vez com maior intensidade. As cidadas estão cada vez, mais impermeabilizadas...
Somos biologicamente constituídos e ecologicamente dependentes. Qualquer proposta diferente irá de encontro ao óbvio e ao razoável, até beirar a insanidade cega, exatamente por desconhecermos a sensatez, que deve guiar as nossas ações e nos mostrar caminhos menos radicais onde haja espaço para todos, equilibradamente.