terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O homem branco de origem negra.

Colaborador Roberto Rocha


Os homens brancos sempre foram brancos? Essa pergunta me surgiu ao assistir um programa sobre racismo. Qual a origem do racismo? O racismo sempre existiu ou é uma consequência natural e sociocultural? Se é verdade que o berço da humanidade é a África, então, todos nós éramos negros no início: uma origem sem diferenciação de fenótipos. A questão da raça, quando estudada do ponto de vista genético, é algo muito natural entre qualquer espécie. Aprendi que uma espécie pode ser modificada em algumas de suas características, com base em duas fortes vertentes: a do potencial genético e da resistência do meio. Se a nossa constituição genética de um passado muito remoto, era uma só; e vivíamos num mesmo continente, na linha do Equador, então parece ser fácil explicar que poderíamos ficar por ali, por muitos milhares de anos, sem grandes variações em nosso genoma original. No entanto, nossa curiosidade de conhecer o entorno nos fez ampliar, cada vez mais. os nossos restritos territórios de origem. Em nossas vivências migratórias, fomos deixando pelo caminho um rastro genético de pele negra adaptada aos trópicos. Mas a medida que nos deslocamos para o Norte, os desafios aumentaram. Não estávamos acostumados com tanto gelo. A riqueza da caça abundante equatorial não era a mesma nas terras boreais. Muitas espécies foram exterminadas pela interferência humana no passado - e continuam sendo até hoje - só que num rítmo muito mais acelerado. Logo perceberíamos que somente com muita inovação para manejar plantas e animais é que teríamos alguma chance de continuar a viver em ambientes tão hostis. Por centenas e centenas de anos a melanina superficial foi diminuindo e a cor da pele foi clareando. Uma cultura adaptada às exigências do Norte era agora uma questão de sobrevivência. Tivemos que melhorar a nossa capacidade de caçar, plantar e criar. Algo novo que não aconteceu com nossos ancestrais das florestas dos trópicos. Os grandes animais do gelo que lembravam as espécies africanas foram logo exterminados para servirem de alimento. E agora, o que fazer? Enquanto isso a pele negra que migrara no sentido da linha do equador continuava a encontrar caça abundante e sem problemas com o gelo devastador. Duas correntes então se formaram de uma mesma origem. Os migrantes equatoriais e os migrantes boreais. A vida tropical é menos exigente e oferece tudo que precisamos. Não há necessidade de grandes mudanças. No entanto o fato de termos saído da África nos colocou um enorme desafio que não estávamos acostumados: viver em terras frias. Onde está a caça abundante de um ano inteiro, a qualquer momento, de dia e de noite? Em terra ou nos rios? Nas praias arenosas e nos mangues, ricas em moluscos, crustáceos, e uma infinidade de peixes? O homem do Norte ficou um tanto desolado com pobreza de vida, mas sabia como plantar e colher mesmo em pequenos períodos. Aprendeu a guardar o alimento e ampliou sua capacidade de sobreviver, invadir e se adaptar à nova realidade. Talvez seja esta a principal diferença entre os homens negros que tornaram brancos e os homens sempre negros. Foi uma questão ecológica e cultural. A necessidade faz a hora ou a hora faz a necessidade? Os indivíduos que não souberam se adaptar as novas exigências, sucumbiram. Outros, voltaram para a linha do Equador. Mas alguns ficaram. E por muitos anos aprenderam técnicas novas de se organizar e de observar o que havia nas proximidades. O homem equatorial não precisou se esforçar tanto. Bastava saber caçar e pescar num mundo abundante de vida, os trópicos. O povo do gelo teve que “inventar” novas moradias e se especializou em engenharia de sobrevivência. Foi um passo enorme. No entanto, uma vez aprendida a lição seria mais fácil ampliar suas populações por uma vasta área ainda virgem, embora um tanto pobre, se comparada com as terras tropicais. Se observarmos a maneira com que o homem brando ocupa as terras, vamos encontrar uma estrutura mais “pensada” do que as que são usadas pelas tribos da África e da America do Sul. Enquanto o povo dos trópicos concentrou sua cultura na caça, o homem do Norte concentrou sua cultura em sobreviver em ambientes hostis. Seria coerente pensar que o homem do gelo tivesse uma maneira diferente de pensar e de agir, quando comparado com o homem tropical. Quando se diz que não existe diferença entre a inteligência do negro e do branco, isso parece ser verdade, porque os desafios foram diferentes ao longo da história antropológica. Se todos os homens negros iniciais tivessem ficado no Norte, todos eles teriam os mesmo desafios e uma cultura mais semelhante. Mas isso não aconteceu. O homem do gelo foi obrigado a perceber o mundo de uma forma diferente e a conviver com modelos diferentes daqueles dos trópicos, que fizeram parte da sua história inicial. As savanas são áreas abertas e ensolaradas. A pele negra ajuda a proteger a intensa radiação solar. Mas se o homem negro passar a morar em locais mais abrigados, sob a copa das árvores da floresta equatorial, é muito possível que a sua pele não precise de tanta melanina, e fique mais “acobreada”. Seriam eles os nossos indígenas brasileiros? Não foi a toa que chamaram os europeus de “homens brancos”. Mas vem a pergunta: mas na África nós temos também florestas equatoriais! Porque os homens negros não clarearam nas florestas chuvosas da África? Por que preferiram viver lá, predominantemente nas áreas abertas? Seria por causa dos predadores? Concorrência com outras espécies de florestas mais fechadas? Será que existiram “homens brancos” na África? Como explicar a existência de uma mesma espécie – Homo sapiens – com três fenótipos diferenciados: de pele negra, de pele vermelha e de pele branca? As recentes pesquisas sobre a trajetória histórica da espécie humana e suas adaptações podem nos ajudar a esclarecer tais diferenças.