domingo, 22 de maio de 2011

Por uma revolucionária economia conservacionista

 Colaborador: Roberto Rocha

Buscar novos paradigmas econômicos que substituam o capitalismo selvagem dos últimos séculos, inclui olhares para a Economia da Conservação:  uma forma de produzir sem desconsiderar os modelos homeostásicos naturais e bilenares do sistema Terra. Essa modalidade econômica vem se juntar à Biologia da Conservação e à Medicina da Conservação, ambas também focadas nos serviços dos ecossistemas e na saúde ambiental. Note que o termo conservação aparece em todas elas, e não é sem motivos, porque a natureza atua com bases em leis rigorosas, incluindo medidas econômicas altamente eficientes e eficazes. É muito provável que o nome “ecoeficiência”, utilizado como uma das matrizes do desenvolvimento sustentável, tenha sido adotado como mimético da verdadeira capacidade dos ecossistemas em não dissiparem energia desnecessariamente. Não custa lembrar que essa prática tecnicista é reducionista e não chega nem perto de uma verdadeira mega-economia planetária ou universal (assim como é em cima é embaixo: mas é preciso que os economistas dinossauros aceitem a máxima que faz tudo acontecer de forma ampla e irrestrita). Gaia nos dá aulas incríveis de economia natural em todos os lugares onde se possa perceber qualquer tipo de transformação, seja nas florestas, nos oceanos e, até mesmo em suas entranhas, onde embates de placas e de magma pastoso derretido promovem revoltas incríveis e “chocantes”. Se a economia tradicional engessada conseguir perceber o óbvio, vamos economizar tremendamente. A questão principal é que as empresas – muitas vezes – já sabem como economizar; e isso “pode não interessar” por outros motivos: políticos, amizades, acordos e porcentagens. Representam outras formas de lucrar, que não são exatamente “vivos dinheiros”, mas são “dinheiros vivos”. Um aperto de mão, um olhar, um sorriso, uma batidinha nas costas, podem ser agrados que direcionam e sinalizam negócios e valores. Mais do que questões econômicas ou ecológicas, são questões éticas! Falar de economia sem falar de ética, é chover no molhado! E até onde a ética tem sido considerada nas questões econômicas atuais? Apenas os contratos legais são suficientes para garantir uma correta transação? As leis sozinhas podem garantir uma justa negociação? Mesmo as leis, são propostas provisórias. São revogadas de tempos em tempos porque são incompletas e falhas. Nossas convicções também. Se uma cultura diz: mate!. Você mata! Se ela diz: salve! Você salva! Somos culturalmente coesos. Existe um “outro” que também decide, invisível, que não mora dentro da nossa mente, mas que nos comanda também. É algo pré-histórico e coletivista, lá do paleolítico, dos homens das cavernas, meio irracional. São as torcidas que gritam “gol” quando o “inimigo” é “abatido simbolicamente” ao vazar as traves,  no coração do adversário, sem sangrar. São as demonstrações agressivas de territorialidade nas periferias dos estádios, mesmo depois da “guerra” acabada. Uma coisa é a técnica e outra é a tradição. É mais fácil mudar uma técnica! Mas, e a tradição?  Podemos ter uma ótica pontual, mas de que vale a ótica sem a ética? O consumidor tem em suas mãos um trunfo letal. Mesmo afogado nas propagandas e nas técnicas de “fazer consumir” ele ainda é o “dono da festa”. Basta um aceno, e cabeças rolam!. Milhões de dólares vão pelo ralo com três letras e um til: não! Que poder infernal, este de um povo consciente, crítico e reflexivo! Já estamos falando de consumo ético, consumo responsável, consumo político. E por que não, uma sociedade ética? Economia sem ética é economia caótica. Vamos considerar as nossas “ticas”: as com “é” e as com “ó”. Quem sabe alinhamos também as nossas “eco”:  a “logia” e a “nomia”?   Quem sabe ainda podemos ser felizes, tradicionalmente?

domingo, 8 de maio de 2011

Envolvimento (fase1), des-envolvimento (fase 2), des-envolvimento sustentável (fase 3) e plena sustentabilidade (fase 4): assim caminha a humanidade...

Colaborador Roberto Rocha

Refletindo sobre a onda de "sustentabilidade" que cobre o mundo,  fui procurar no passado remoto da nossa espécie, quando foi que perdemos a ligação sagrada com a natureza e passamos a venerar o tecnicismo como nosso deus de cada dia. Revendo cenas imaginárias dos  costumes dos hominídeos primitivos, vamos encontrar nosso ancestral olhando para o fogo de uma mata próxima, já sentindo o cheiro da carne queimada dos animais. Passado o perigo incendiário e seguido de outros predadores mais originais, segue ele em busca de "churrascos" misturados com a cinza salgada do chão: uma verdadeira iguaria! Depois de comer muito, ele reflete se vale a pena levar alguns pedaços para o grupo distante, mesmo se arriscando a atrair outros comedores de carne mais possantes. Afinal, a carne tostada leva o cheiro mais distante do que o sangue coagulado. Desconfiado, mas não menos sábio, decide não se arriscar e come mais um pouco de modo que a energia poderá ficar guardada dentro do seu corpo e não atrairá a atenção de ninguém. Com ela poderá andar livremente, sem peso nas costas, e abater outra presa ou procurar alguma outra já recém-morta sem colocar em risco a sua curta vida. Me dou conta então que viajei no tempo e construí um cenário que bem pode ter acontecido; embora, nem todos os fósseis coletados possam descrever, com tamanha precisão, todos esses detalhes. Esse hominídeo vivia "envolvido" com a natureza e dependia dela todo o tempo. O homem era a própria natureza e não imaginava outra coisa, porque essa era a verdadeira realidade. Mas o que fizemos nós, passados alguns milhares de anos? Resolvemos ser independentes e tomar as nossas próprias decisões, carregando nosso cérebro com informações e pensamentos mais ousados. Aprendemos então a usar o fogo, no lugar somente de somente aproveitá-lo em eventos incendiários. Acho que foi aqui lançada a pedra fundamental da manipulação da tecnologia para nossos interesses direcionados. Novas armas e instrumentos nos levaram a conquistar  novos espaços e inventar novos meios de nos satisfazer de modo mais autônomo. Certamente, foi a partir daí, que tivemos a sensação de que nós seríamos os condutores do mundo. A Revolução Industrial nos daria um poder jamais visto em qualquer tempo. Mais satisfações e sonhos seriam atendidos e perseguidos. Aos poucos fomos nos "des-envolvendo" com as nossas raízes, e fomos buscar novas aventuras num mundo mais nosso do que do divino. O des-envolvimeto passou a ser uma prática comum, com cada vez, mais hominídeos se separando da vida natural. Essa euforia inicial nos lançou num círculo de produção selvagem e destruidora, até porque não conhecíamos as consequencias desses descaminhos. Fumaça preta era então sinônimo de riqueza. E realmente era assim!  Passamos a ter acesso a novidades incríveis! Que hominídeo pode resistir a uma novidade? Impossível! Somente alguns séculos depois é que passamos a reconhecer alguns enganos. Passada então a primeira fase (envolvimento) e a segunda (des-envolvimento), resolvemos acrescentar a palavra sustentável, mostrando já alguma sensibilidade e reconhecimento de que algumas coisas não tinham dado certo. Isto é, embora ainda desligados do mundo natural estávamos agora desejando sustentar somente algumas coisas essenciais, mas sem os exageros do passado avassalador. Com a entrada do século XXI, estamos agora nos encorajando para uma quarta fase - a da sustentabilidade autêntica. Isto é, uma compreensão mais apurada de que nós realmente não podemos viver separados da natureza e apenas nos locupletando dela, sem maiores cuidados. Já estamos percebendo - por causa dos prejuízos astronômicos acumulados com os recente desastres - que nós fomos longe demais em nossas "viagens" intelectuais e econômicas. Que precisamos sim, ser mais humildes e dependentes. Afinal, nós somos mesmo ambiente. Não poderemos ser máquinas ambulantes com cérebro pensante. Seria completamente anti-natural. Não acredito que isso possa trazer felicidade para qualquer pessoa. Somos pele, somos cheiros, somos sabores. Ninguém pode sentir nada com um beijo de lata, mesmo com  ilusões programadas. A proposta da sustentabilidade deve considerar essas nuances. Não poderemos passar de um pólo para outro tão rapidamente. Precisaremos de um tempo para sair do des-envolvimento sustentável  para a sustentabilidade ampla. Isso deverá nos pressionar a recuarmos em nossas intenções mais arrojadas: um grande desafio! Passado todo esse tempo e todas as conquistas, o homem permanece curioso e aventureiro. Como resolver isso? A questão é que no passado, tínhamos a natureza ainda tolerante com as nossas elucubrações. Agora, parece que ela não está muito satisfeita. Tem nos mostrado sua revolta por diversas vezes. Até onde podemos desafiá-la? Logo ela que tem um invejável currículo de vitórias e experiências, as mais desafiadoras, em quase cinco bilhões de anos? E nós, com apenas alguns milhares, quem sabe duzentos ou trezentos mil anos? Quem tem mais experiência? Quem sabe possamos recuar e convidá-la  para um novo envolvimento? Como o casal que se separa e volta? Quem sabe, ainda possamos ser felizes? O que fará acontecer esta união e retorno?  Um presente caro? Quem sabe seja deixar de ser tão petulante e ambicioso? Menos artificial e mais natural? Mais solidário e menos agressivo? Menos máquina e mais coração...