Colaborador Roberto Rocha
Quando me fizeram essa pergunta, eu já ia respondendo que o biocombustível era renovável e o fóssil não era. Mas, depois de uma breve reflexão, afirmei: o melhor é usar o combustível fóssil!. Quando vi o espanto na face de quem me perguntou, fez acender meu alerta: acho que falei uma besteira! Imagine! Todos afirmam que o que vem da natureza é mais saudável e se renova! E agora, como explicar tal desacordo? Lembrei então da definição do que é o petróleo: uma substância oleosa, de origem orgânica, resultado da decomposição de seres invertebrados que viveram num passado distante. Está aí o grande achado: o petróleo é de origem biológica, portanto é um biocombustível tanto quanto qualquer outro proveniente de um organismo vivo do qual se extraia energia. Mas então, por que tanta discussão? E qual seria a tal vantagem? Pensei outra vez e respondi com convicção: petróleo é resultado das criaturas que desapareceram no passado e não deixaram descendentes, mas apenas seus corpos transformados. Sabemos que as espécies atuais vieram de espécies ancestrais, pela evolução, mas as formas recentes apresentam relevantes diferenças em suas aparências. Podemos pensar numa girafa e, ao mesmo tempo, num dinossauro de pescoço comprido, como se fossem parentes. No entanto algumas delas eram muito semelhantes, como no caso das tartarugas e jacarés. O amigo que estava comigo insistiu: e por que você é a favor de algo que tanta gente combate? Não é que eu seja a favor! Todo mundo afirma que a queima de combustível fóssil libera CO2 e agrava o efeito estufa, fenômeno conhecido como aquecimento global. Mas, continuei, embora o CO2 seja o vilão da história (?), existem atividades humanas que liberam outros gases (muito mais agressivos) que contribuem para esquentar o planeta, tais como as culturas de arroz – que liberam metano - e aqueles provenientes dos fertilizantes que cobrem o Brasil inteiro. As queimadas chegam a impedir o transporte aéreo em determinadas regiões do país. A questão central é que quando retiramos a energia de criaturas que já desapareceram, e que estavam “guardadas” a muitos metros de profundidade, nós não estamos causando erosão genética, isto e, não estamos matando a biodiversidade do planeta, porque ela já está morta. Não podemos omitir o fato de que a exploração de petróleo também elimina biodiversidade recente, como ocorreu no Golfo do México. Entretanto, quando você planta - deliberadamente - cana-de-açúcar, soja, milho, mamona e qualquer outro vegetal para implantar monoculturas, você precisa retirar a floresta - porque essas plantas são de crescimento rápido, precisam de muito sol e não crescem debaixo de sombra, como ocorre com o cacaueiro – que nos fornece excelente chocolate, produto muito procurado. Na pecuária é a mesma coisa: as capineiras (capim para alimentar o gado) precisam de locais abertos e planos, bastante ensolarados. O gado precisa de espaço para circular e pisoteia tudo que estiver por baixo. Não há mata nativa que aguente tantas invasões. Embora o Brasil seja um país megadiverso – muito rico em biodiversidade – nós (?) preferimos criar e cultivar espécies de outros países que nunca existiram por aqui, como o boi, o cavalo, o porco, a galinha etc. A grande maioria é importada, para gerar lucro rápido. As nossas espécies (indígenas, autóctones ou nativas) são pouco conhecidas ainda para se saber se poderão substituir com vantagens essas espécies alienígenas ou exóticas. Falta pesquisa e investimento pesado. Entendo que não se queira trocar o certo pelo duvidoso, mas no passado, tudo era incerto também. Ocorre que as espécies brasileiras podem servir não apenas para produzir energia e pasto para gado em espaços devidamente controlados. Elas podem significar bases químicas importantes para a medicina, oferecendo novos antibióticos, antihemorrágicos, antidepressivos, anticancerígenos, analgésicos e tantos outros, sem que se tenha que destruí-las, como vem ocorrendo intensamente. Muitas desaparecem sem serem ao menos identificadas. As listas de espécies ameaçadas aumentam no mundo inteiro e não mostram sinais de restauração. Os poucos sucessos obtidos para salvar alguma espécie da extinção, são alardeados como que se estivéssemos agitando, desesperadamente, uma bandeira de alerta para o resto do mundo, impassível e imediatista. Uma floresta com todos os seus componentes devidamente funcionais precisa de alguns séculos para alcançar seu clímax. Como apresentar tal discurso num mundo de fibras óticas e computadores que trabalham na velocidade dos nossos pensamentos? Meu colega ficou meio triste, depois da explicação e me disse: mas o que estamos fazendo então é uma imbecilidade! Eu pensei outra vez: não tenho muita certeza. Quem lida com aspectos econômicos de grande alcance, tem acesso a informações que a maioria da população ignara não tem. Não são imbecis. A questão não é só de conhecimentos. Existem outras motivações próprias do homem, para enfrentar desafios, novos caminhos e conquistas que não podem ser esquecidas. Somos primatas curiosos, queremos mudar o mundo que nos cerca. No entanto, acredito que ainda não estamos completamente insanos para desejar a nossa própria morte e a dos nossos filhos e netos. O problema é que a natureza é lenta, mas muito competente. Estamos subestimando suas forças. Ela não vai perder essa parada! Estamos cutucando o diabo com vara curta. Ela, de tão generosa que é, já vem nos alertando para as consequencias de nossas escolhas equivocadas. Nós, continuamos a ignorá-la, como deuses supremos que não precisam de conselhos. Ela, paciente como sempre, vai esperar, até que tudo volte a ficar como sempre foi...