sábado, 10 de setembro de 2011

Não se pode amar aquilo que não se conhece




Colaborador Roberto Rocha

Se entre pessoas de uma mesma família, ou entre colegas e amigos, muitas vezes temos dificuldades de compreender o "outro", imagine quando este "outro" está distante, nunca foi visto, e precisa ser amado!?. Refiro-me ao "amar a natureza"; de onde viemos e da qual dependemos como criaturas frágeis e vulneráveis às mudanças da Terra, muito mais do que às mudanças econômicas. Mas o "sistema" nos ensinou que para sermos felizes e possuirmos uma boa qualidade de vida precisamos ter uma "gorda" conta bancária, um carro do ano, uma bela casa e tantas outras conquistas semelhantes. No entanto, em certos momentos, percebemos que, mesmo com tudo isso, está faltando alguma coisa. Quem sabe seja um retorno às práticas mais simples e puras? Ficar olhando um rio passar, as ondas de uma praia, as vozes dos pássaros ao amanhecer, as formigas carregando seus pedaços de folhas, descobrir uma perereca camuflada em meio à vegetação. Pode parecer estranho desejar coisas tão "insignificantes", quando as comparamos com os ambientes ensurdecedores de alguns espaços de festas, à inquietude das pessoas paradas no trânsito - apesar de possuirem um carro poderosíssimo. Ter um relógio que pode ser usado a 300 metros de profundidade sem alterar a sua precisão: ridículo! A maioria dessas pessoas jamais passou dos dois metros num mergulho "profundo". Mas o que importa é que o relógio possa ser "incomum" em relação ao que os outros fazem. Poder mostrá-lo aos outros e repetir que é algo "diferente". Valorizamos coisas que não possuem qualquer utilidade real, a não ser mostrar que "somos" ou "possuímos" algo diferente. Essa prática exclusivista vale também para a nossa relação com a "natureza". Nascemos cercados de paredes e alguns equipamentos artificiais (tanto o pobre, quanto o rico) e logo nos apresentam outras novidades coloridas articialmente: algumas dotadas de sons jamais ouvidos nas florestas originais. Formas e ângulos impossíveis de serem reproduzidos pelas plantas: bem-vindo ao mundo dos humanos tecnologizados! Logo logo, vamos aprender a ficar em frente de um retângulo brilhante, com uma resolução de detalhes que natureza alguma consegue imitar. Vamos comer em pratos redondos, duros e cheios de sinais e cores incríveis. Tudo é incrívelmente forte e arrebatedor. Não dá mesmo para comparar com a simplicidade do mundo natural e disfarçado. Vamos aprender que a escola é um excelente lugar para ficar lá por muitas horas ouvindo explicações  sobre como o mundo dos homens funciona, como trabalhar por oito horas seguidas para receber um salário no final do mês. Vamos aprender que os bancos agora vão até a sua casa e que voce não precisa se desgarrar da máquina e perder a oportunidade de estar mais presente nas redes sociais. Vamos aprender como o mercado de trabalho é algo tão sagrado como um deus. Que estar atualizado com as novas versões de programas avançadíssimos é vital para se manter empregado numa empresa de topo. As horas que temos para pensar, isolado do mundo, para meditar sobre "o que somos", para não ouvir nada e nem ninguém, são cada vez mais raras. Ou não existem mesmo! É zero! E assim seguimos em nossa trajetória, até que alguém vem nos "exigir": precisamos defender a natureza! E então vem aquela sensação de "nada" dentro da gente. Como defender ou gostar de algo que eu nunca vi? Como defender um macuco, um mutum, uma jacucaca, um jaguarundi? Quem são eles? Quais as suas cores? Que som saem deles? Como são as suas formas? As perguntas vão ficando sem respostas. No nosso cérebro primata só existem referenciais artificiais, construídos dentro da mais alta tecnologia, seguros, confiáveis. E nós achamos que deve ser assim mesmo. O nosso lado selvagem e natural foi assassinado com a maior das boas intenções! Levamos milhares de anos para forjar um cérebro complexo e exigente. Estamos agora simplificando tudo. Estamos nos emburrecendo com o excesso de estímulos. Somos uma criatura "natural" desejando viver e ser feliz num mundo "artificial". Nada mais paradoxal! E aceitamos tudo isso como "desenvolvimento". Mas que tipo de desenvolvimento? Para quem? Será que a nossa saúde mental está incluída nesse objetivo? Fico preocupado quando insistimos em forjar e manter situações completmenae estranhas  à nossa natureza animal. Vou torcer para que esteja errado! Que essas linhas sejam apenas um momento de desabafo de coisas que ainda não conheço bem, na minha santa ignorância. Gostaria de amá-las ! ... Mas  alguma  coisa dentro de mim diz que algo está errado, muito errado.  E essa coisa fica lá, me incomodando. E eu, tentando disfarçar... Querendo dizer: eu te amo! Mas como? A natureza tem sido um mundo estranho para muita gente. O mais perto que pode chegar dela é uma peninha pendurada na orelha. Ou na comida exótica que custa os olhos da cara num restaurante de luxo. A distância entre o "meu ambiente artificial " e o "verdadeiro ambiente natural" é imensa. Por isso, quando pedir para alguém amar a natureza, pergunte primeiro: voce sabe o que é um macuco, um mutum, um jacurutu? Se souber, ótimo! Boa parte do trabalho já está concluído. Se não souber? Arregace as mangas, meu amigo! Muito trabalho te espera !. Quem sabe até consiga despertar algum amor arrependido?...