Colaborador: Roberto Rocha
A notícia de que uma das quatro raças geográficas do rinoceronte preto africano (Diceros bicornis longipes) está extinta, causa aos conservacionistas uma enorme frustração. Revela a nossa incapacidade de lidar com os interesses alheios escusos, ou frutos de tradições antigas, mantidas de geração para geração. Aperfeiçoamos tanto o extermínio biológico, que já conseguimos, até mesmo, eliminar ecossistemas inteiros. Pasmem: uma parte ínfima da população mundial tem acesso ou se preocupa com esse tipo de informação: lastimável, triste, desolante. Não estamos falando de perder alguns animais apenas; estamos falando de perder espécies complexas que possuem um significado indispensável para manter a riqueza genética da Terra e os seus serviços ecossistêmicas. A natureza precisa dos genomas "para jogar o jogo da vida". Jogar é um termo conhecido por todos, mas não em termos ecológicos naturais. A grande maioria da população só entende jogos artificiais, influenciados pela propaganda, com imagens e sons, lindos, maravilhosos, todos bem intencionados. No entanto, as formas de vida, identificadas ou não, como as bactérias, os fungos, os protozoários, as plantas, os animais e demais grupos taxinômicos ainda sob discussão, não fazem parte da lógica de mercado contemporâneo. Podemos aceitar a ideia de que existe um "esverdeamento" mundial, mas não passa disso. Não trará de volta o que já foi extinto. Estamos jogando para "diminuir" os prejuízos biodiversos, mas não estamos obtendo avanços significativos. Estamos perdendo o jogo. Digo estamos, porque somos nós - ditos humanos - os mais prejudicados neste cenário. O planeta não vai ser destruído. Já repeti isso muitas vezes. O que vai ocorrer é que - através de um processo natural - haverá uma purgação das "irregularidades" óbvias e que possam "tentar" obliterar a tendência à homeostase. É a lei do pêndulo. Tudo retorna!. E quanto mais fortemente empurrado, mais fortemente volta. Depois, vai se acalmando, aos poucos, até que nova conturbação venha provocar, mais uma vez, o processo. Assim caminha a relação entre seres vivos e inanimados. Inocentes criaturas manipuladas por genes curiosos e inteligentes, testando e sendo testados, a cada momento, por tempos geológicos intermináveis.
Emslie, R. 2011. Diceros bicornis. In: IUCN 2011. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2011.2. <http://www.iucnredlist.org/>. Downloaded on 24 December 2011.