Colaborador Roberto Rocha
O método científico trouxe para a
humanidade uma nova maneira de ler e de tentar compreender o mundo e a nós
mesmos. Veio apresentar a ilusão das certezas comprovadas experimentalmente,
substituindo imaginações sobrenaturais. O próprio nome imaginação nos lembra
”imagens” ou “coisas que construímos com o pensamento”, mas que nem sempre
temos provas contundentes de sua real existência. Na experimentação essas
dúvidas precisam ser dissecadas e compreendidas para que não inviabilizem o
próprio método. Ao se permitir que algo ou uma teoria possa ser “demonstrada”,
“várias vezes”, “sempre com os mesmos resultados”, o que se pretende é
reafirmar que existe uma coerência na idéia inicial e que ela pode também ser
percebida em outros campos, e não somente engendrada em nossas conjecturas
particulares. Num mundo de percepções rápidas e diversificadas como esse do
início do século XXI, às vezes, nem sempre é fácil, concentrar as nossas atenções
em temas mais “espiritualizados”, e persistir nele, porque os deslumbramentos e
apelos fortes nos levam para o mundo das impressões efêmeras e passageiras. A ciência
e seus métodos nos mostraram a importância da observação, e ela mesma nos
concedeu a capacidade de construir máquinas mirabolantes que nos dão a sensação
de um poder muito além de nossa capacidade natural e simples de sentir o mundo
e seus elementos. Nosso cérebro parece gostar de desafios e novidades; e tanto
mais, quando fogem dos parâmetros regulares e seguros que o bom senso
recomenda. Com alguns ou muitos riscos, enveredamos em campos estranhos e
espaços escuros, desconhecidos, buscando o novo e as surpresas inesperadas.
Gostamos de nos surpreender a cada momento, e isso, parece reforçar a certeza
de que estamos vivos e atuantes, o que parece razoável. No entanto, também
podemos extrapolar esses desejos e aventuras, causando tristezas e mortes a
muitos, o que também não parece ser sensato e nem eticamente correto. Resta-nos uma
reflexão profunda sobre esse caminho que tomamos como Norte. Saber se devemos
seguir realmente em frente, ou ainda, se não será melhor refazer a trajetória ao
contrário, e buscar nossas raízes abandonadas onde estão as verdadeiras
fontes da eterna procura humana pela felicidade. Quanto mais rapidamente
caminharmos para diante, sem maiores reflexões, mas dolorosa será a senda do
resgate. Fora isso, devemos também desconfiar se a negação dessa
possibilidade pode estar patologicamente associada a algum tipo de desvio
comportamental global da criatura humana, certamente injusto e insano. Quem
sabe a solução para todos esses dilemas seja um maior investimento na nossa
própria espiritualização, tão ausente e distante das nossas conversas
rotineiras, direcionadas para os lucros e perdas materiais, dissociadas do
sagrado e das luzes que iluminam outros caminhos que não esses tão fugazes e
tão passageiros?...