Colaborador Roberto Rocha
Biodiversidade é um termo que vem ganhando grande
repercussão nos últimos anos. Esse fato decorre da preocupação mundial, cada
vez maior, em garantir recursos naturais básicos para as gerações futuras.
Estima-se que até o final do século XXI o planeta perderá grande parte de sua
riqueza biótica, o que representa séria ameaça econômica. Plantas e animais são
recursos renováveis desde que mantenham suas populações geneticamente viáveis.
A polinização das flores e a dispersão de sementes, por exemplo, são fenômenos
naturais em grande parte envolvendo animais invertebrados e vertebrados de
diversas espécies, garantindo assim a sobrevivência das florestas. No entanto esse
"reflorestamento natural pelos animais" – mais adequadamente
conhecido como “serviços ecossistêmicos” - não costuma ser evidenciado,
dando-se preferência ao plantio de mudas e sementes exóticas "pelas mãos
do homem”, o que deve também ser organizado através da criação de hortos
municipais, sem menosprezar o "trabalho" dos organismos nativos em
geral.
As florestas contribuem para a contenção dos processos
erosivos - evitando enchentes e desabamentos - amenizam a temperatura nos
grandes centros urbanos, produzem uma série de princípios curativos muito
usados pela população, fornecem madeiras para diversos fins, essências, fibras
e óleos. As florestas são organismos vivos e dependentes, onde os animais NÃO
VIVEM NELA SOMENTE, MAS FAZEM PARTE DELA E SÃO FUNDAMENTAIS PARA SUA
SOBREVIVÊNCIA. Justamente por esse motivo é que precisamos conservar nossa
biota porque todos esses organismos trabalham gratuitamente para nós,
incessantemente. Profissional e tecnicamente falando, quem melhor para
recuperar e manter as florestas?
Outro assunto
importante e que tem a ver com a biodiversidade é a conservação dos recursos
bióticos que existem nas coleções das águas doce, salgada e salobra. Só mais
recentemente é que os invertebrados foram considerados em nossas listas de
espécies ameaçadas. São seres bem diferentes daqueles que vivem nas florestas
de terra firme, nem por isso menos importantes. Rios, lagos, lagoas,
manguezais, estuários, mares e oceanos, fornecem uma incrível quantidade de
proteína para as populações humanas de diversos continentes do planeta. E
embora os peixes façam parte da fauna – porque são zoologicamente assim
classificados – você encontra esses organismos sendo comercializados em feiras
e mercados sem que isso seja percebido como uma transgressão legal, embora seja
proibida por lei que os animais pertencentes ao patrimônio nacional sejam explorados
pela sociedade sem estudos e autorizações cientificamente orientadas. As
estatísticas brasileiras sobre o volume de peixes capturados na costa atlântica
brasileira são incompletas e falhas. Carecemos de equipes especializadas em recursos
marinhos. Estamos exterminando espécies que não chegaram nem mesmo a ser
classificadas, totalmente desconhecidas. Daí a necessidade de nos preocuparmos
com a boa qualidade da água e os perigos da erosão e assoreamento nesses
ecossistemas, porque somente livres de poluentes e de outras alterações físicas
é que poderão manter e permitir a reprodução das populações vegetais e animais
que dela dependem, tanto ou mais do que nós.
Apesar de termos conhecimento do valor desses recursos - e
do mal que lhes temos causado - muito pouco temos realizado para reverter a
atual situação. Precisaremos, urgentemente, acelerar esse processo de
restauração ambiental para resguardar a nossa própria sobrevivência, seriamente
ameaçada. Assim, torna-se necessária a real participação governamental,
especialmente a nível do município porque está mais próximo dos problemas e
pode melhor controlá-los. Muitas vezes, mais do que recursos financeiros e humanos,
o que falta realmente é a vontade política, que desencadeia as demais. Os
municípios precisam se organizar melhor para atuar em seus ecossistemas,
preservando-os ou recuperando-os, ao invés de esperar somente que o Estado
resolva a maioria de seus problemas, como normalmente acontece. Para orientar
procedimentos e outros atos oficiais esperados por parte das Prefeituras,
estamos apresentando as seguintes sugestões:
1-
Que os assuntos referentes ä flora e ä fauna sejam tratados em conjunto sob o título
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE.
2- Que os ecossistemas que ultrapassem os limites
políticos do município sejam estudados e manejados em conjunto com os
municípios vizinhos, para que não haja descontinuidade e desigualdade de
tratamento nos assuntos ecológicos - que desconhecem limites
político-geográficos. Normalmente as bacias e micro-bacias hidrográficas são as
unidades aconselháveis para desenvolver estudos e planos.
3- Que sejam criados e considerados prioritários
SERVIÇOS, DIVISÕES E DEPARTAMENTOS, que atuem sobre o tema BIODIVERSIDADE
MUNICIPAL, o que não impedirá ações em conjunto com universidades, organizações
não governamentais, associações de moradores, entidades religiosas, clubes de
serviço e outros segmentos da sociedade que possam colaborar nesse trabalho
integrado.
4- Que as equipes que fiscalizam o uso dos recursos
naturais do município, sejam treinadas nos temas ambientais onde deverão atuar,
para o adequado desempenho de suas funções.
5- Que o orçamento municipal priorize recursos
financeiros para equipar e manter as equipes de fiscalização e auditoria
ambientais.
6- Que para seleção de áreas a serem protegidas sejam
consideradas não somente aquelas
indicadas pelo Estado como Unidades de Conservação, mas também quaisquer outras que sejam vitais para a
manutenção da boa qualidade de vida do
município.
7- Que a fiscalização seja rigorosa nas áreas que sofrem
pressões fortes com destruição de formas jovens de animais, suas larvas e ovos,
como é o caso das ilhas, praias, costões rochosos, manguezais, lagunas, brejos,
etc. A poluição, na maioria das vezes, mata muitos animais microscópicos que não são visíveis a
olho nu. A quantidade desses seres é infinitamente maior do que todos os
adultos que podem ser colhidos mortos ou fotografados para notícias em jornais.
8- Que na delimitação de áreas de importância ecológica
para a flora e a fauna se dê prioridade àquelas que possuam maior extensão e
continuidade de cobertura vegetal, sem maiores interrupções entre elas. É
preciso também lembrar que áreas degradadas não são sinônimos de áreas
irrecuperáveis, devendo essas serem também consideradas para a salvaguarda de
recursos naturais, mesmo que se tenha que atuar alguns anos para resgatá-las,
como é o caso de manguezais e restingas que foram perturbados ou seriamente
modificados em suas áreas de origem. Para tal, se estimulará a regeneração
natural através de cuidados e técnicas
diversas, além do plantio de sementes e
mudas, entre outras.
9- Que no monitoramento dos impactos ambientais causados
pela poluição atmosférica, hídrica, do solo etc, sejam incluídos também os
malefícios que causam sobre as plantas, animais selvagens e seus ecossistemas,
e não somente em relação ao homem, porque se o equilíbrio biológico ficar
prejudicado as consequências redundarão em prejuízos humanos.
10- Que ao lado de ações fiscalizadoras e punitivas seja implantado um amplo programa de educação ambiental no município desde a pré-escola, de modo a atingir o maior número possível de públicos, incluindo-se neles, principalmente, os empresários e políticos locais.
Eis aí os 10 princípios básicos que sugerimos cuja
viabilidade dependerá, fundamentalmente, da sensibilidade dos poderes
decisórios municipais e da própria comunidade em relação ä causa conservacionista.
O mais é sair do discurso para a prática, de modo que os lucros auferidos
passem a ser contabilizados sob uma nova forma de investimento, que muito mais
que valores financeiros acumulam reconhecimento público, seriedade
administrativa, respeito ao próximo e à
vida.