sábado, 28 de março de 2015

Ainda em París?


Colaborador ROBERTO ROCHA

A insensibilidade e a ignorância em relação às questões de preservação do nosso patrimônio é facilmente explicável porque os atuais ditos “brasileiros” que estão no poder empresarial são na verdade “europeus em terra estranha”; muitos deles mestiços, porque seus ancestrais recentes se acasalaram com negros e índios. Indígenas (brasileiros autênticos) e africanos não mestiços (também autênticos), representam o melhor grupo humano que compreende o valor do equilíbrio ambiental tropical, porque possuem tradições milenares. E a nossa tradição brasileira – construída a partir de estratégias de países do gelo – qual é? Em pouco mais de 500 anos, nosso equivocado modelo de uso da terra mostrou seus erros. Os índios, “ditos incivilizados” – porque não acompanharam a “civilização” dominante da Europa – foram exterminados para que novas populações exóticas ocupassem o mesmo espaço, alardeando seus modelos de exploração. Os índios não “exploram”: eles “convivem”! Os indígenas preservaram nossas florestas, rios, praias, lagoas e tudo que se possa imaginar, durante “milhares de anos”. Lamentavelmente não valorizamos a nossa (?) própria história. O que somos hoje? Fruto de um modelo da idade moderna, antropocêntrica, que – apesar do apelo da época (que gritava nas ruas da França pela liberdade, igualdade e fraternidade) – estimula a ausência do Estado nas questões fundamentais e privilegia fortemente o privado para interferir no que é público. É verdade que estamos hoje num caminhar doloroso, aprendendo com nossos graves erros do passado, tentando consertar parte do que ainda tem conserto. Mas como consertar a alma? O sentimento de perda vai ficar. A ferida pode até fechar! Pode não doer mais. No entanto, não podemos esquecer que nosso DNA original está vivendo aqui como exótico e invasor. Trouxemos conosco nossos acompanhantes também exóticos e invasores (boi, cavalo, porco, cachorro, gato, galinha etc). Que justamente por isso, temos uma enorme dificuldade de entender a estratégia indígena de ocupação e uso do espaço. Que justamente por isso somos incompetentes em lidar como a gestão de ecossistemas tropicais. O Rio de Janeiro do início do século XX parecia Paris. As pessoas (os privilegiados) se vestiam como se estivessem na Europa. Somos uma continuação deles. Precisa dizer mais?