Colaborador ROBERTO ROCHA
A insensibilidade e a ignorância em relação às
questões de preservação do nosso patrimônio é facilmente explicável porque os
atuais ditos “brasileiros” que estão no poder empresarial são na verdade
“europeus em terra estranha”; muitos deles mestiços, porque seus ancestrais
recentes se acasalaram com negros e índios. Indígenas (brasileiros autênticos)
e africanos não mestiços (também autênticos), representam o melhor grupo humano
que compreende o valor do equilíbrio ambiental tropical, porque possuem tradições
milenares. E a nossa tradição brasileira – construída a partir de estratégias de
países do gelo – qual é? Em pouco mais de 500 anos, nosso equivocado modelo de
uso da terra mostrou seus erros. Os índios, “ditos incivilizados” – porque não
acompanharam a “civilização” dominante da Europa – foram exterminados para que
novas populações exóticas ocupassem o mesmo espaço, alardeando seus modelos de
exploração. Os índios não “exploram”: eles “convivem”! Os indígenas preservaram
nossas florestas, rios, praias, lagoas e tudo que se possa imaginar, durante
“milhares de anos”. Lamentavelmente não valorizamos a nossa (?) própria
história. O que somos hoje? Fruto de um modelo da idade moderna,
antropocêntrica, que – apesar do apelo da época (que gritava nas ruas da França
pela liberdade, igualdade e fraternidade) – estimula a ausência do Estado nas
questões fundamentais e privilegia fortemente o privado para interferir no que
é público. É verdade que estamos hoje num caminhar doloroso, aprendendo com
nossos graves erros do passado, tentando consertar parte do que ainda tem
conserto. Mas como consertar a alma? O sentimento de perda vai ficar. A ferida
pode até fechar! Pode não doer mais. No entanto, não podemos esquecer que nosso
DNA original está vivendo aqui como exótico e invasor. Trouxemos conosco nossos
acompanhantes também exóticos e invasores (boi, cavalo, porco, cachorro, gato,
galinha etc). Que justamente por isso, temos uma enorme dificuldade de entender
a estratégia indígena de ocupação e uso do espaço. Que justamente por isso
somos incompetentes em lidar como a gestão de ecossistemas tropicais. O Rio de
Janeiro do início do século XX parecia Paris. As pessoas (os privilegiados) se
vestiam como se estivessem na Europa. Somos uma continuação deles. Precisa
dizer mais?