Colaborador Roberto Rocha
Biodiversidade é um termo que vem ganhando grande
repercussão nos últimos anos. Esse fato decorre da preocupação mundial, cada
vez maior, em garantir recursos naturais básicos para as gerações futuras.
Estima-se que até o final do século XXI o planeta perderá grande parte de sua
riqueza biótica, o que representa séria ameaça econômica. Plantas e animais são
recursos renováveis desde que mantenham suas populações geneticamente viáveis.
A polinização das flores e a dispersão de sementes, por exemplo, são fenômenos
naturais em grande parte envolvendo animais invertebrados e vertebrados de
diversas espécies, garantindo assim a sobrevivência das florestas. No entanto esse
"reflorestamento natural pelos animais" – mais adequadamente
conhecido como “serviços ecossistêmicos” - não costuma ser evidenciado,
dando-se preferência ao plantio de mudas e sementes exóticas "pelas mãos
do homem”, o que deve também ser organizado através da criação de hortos
municipais, sem menosprezar o "trabalho" dos organismos nativos em
geral.
As florestas contribuem para a contenção dos processos
erosivos - evitando enchentes e desabamentos - amenizam a temperatura nos
grandes centros urbanos, produzem uma série de princípios curativos muito
usados pela população, fornecem madeiras para diversos fins, essências, fibras
e óleos. As florestas são organismos vivos e dependentes, onde os animais NÃO
VIVEM NELA SOMENTE, MAS FAZEM PARTE DELA E SÃO FUNDAMENTAIS PARA SUA
SOBREVIVÊNCIA. Justamente por esse motivo é que precisamos conservar nossa
biota porque todos esses organismos trabalham gratuitamente para nós,
incessantemente. Profissional e tecnicamente falando, quem melhor para
recuperar e manter as florestas?

Apesar de termos conhecimento do valor desses recursos - e
do mal que lhes temos causado - muito pouco temos realizado para reverter a
atual situação. Precisaremos, urgentemente, acelerar esse processo de
restauração ambiental para resguardar a nossa própria sobrevivência, seriamente
ameaçada. Assim, torna-se necessária a real participação governamental,
especialmente a nível do município porque está mais próximo dos problemas e
pode melhor controlá-los. Muitas vezes, mais do que recursos financeiros e humanos,
o que falta realmente é a vontade política, que desencadeia as demais. Os
municípios precisam se organizar melhor para atuar em seus ecossistemas,
preservando-os ou recuperando-os, ao invés de esperar somente que o Estado
resolva a maioria de seus problemas, como normalmente acontece. Para orientar
procedimentos e outros atos oficiais esperados por parte das Prefeituras,
estamos apresentando as seguintes sugestões:
1-
Que os assuntos referentes ä flora e ä fauna sejam tratados em conjunto sob o título
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE.
2- Que os ecossistemas que ultrapassem os limites
políticos do município sejam estudados e manejados em conjunto com os
municípios vizinhos, para que não haja descontinuidade e desigualdade de
tratamento nos assuntos ecológicos - que desconhecem limites
político-geográficos. Normalmente as bacias e micro-bacias hidrográficas são as
unidades aconselháveis para desenvolver estudos e planos.
3- Que sejam criados e considerados prioritários
SERVIÇOS, DIVISÕES E DEPARTAMENTOS, que atuem sobre o tema BIODIVERSIDADE
MUNICIPAL, o que não impedirá ações em conjunto com universidades, organizações
não governamentais, associações de moradores, entidades religiosas, clubes de
serviço e outros segmentos da sociedade que possam colaborar nesse trabalho
integrado.
4- Que as equipes que fiscalizam o uso dos recursos
naturais do município, sejam treinadas nos temas ambientais onde deverão atuar,
para o adequado desempenho de suas funções.
5- Que o orçamento municipal priorize recursos
financeiros para equipar e manter as equipes de fiscalização e auditoria
ambientais.
6- Que para seleção de áreas a serem protegidas sejam
consideradas não somente aquelas
indicadas pelo Estado como Unidades de Conservação, mas também quaisquer outras que sejam vitais para a
manutenção da boa qualidade de vida do
município.
7- Que a fiscalização seja rigorosa nas áreas que sofrem
pressões fortes com destruição de formas jovens de animais, suas larvas e ovos,
como é o caso das ilhas, praias, costões rochosos, manguezais, lagunas, brejos,
etc. A poluição, na maioria das vezes, mata muitos animais microscópicos que não são visíveis a
olho nu. A quantidade desses seres é infinitamente maior do que todos os
adultos que podem ser colhidos mortos ou fotografados para notícias em jornais.
8- Que na delimitação de áreas de importância ecológica
para a flora e a fauna se dê prioridade àquelas que possuam maior extensão e
continuidade de cobertura vegetal, sem maiores interrupções entre elas. É
preciso também lembrar que áreas degradadas não são sinônimos de áreas
irrecuperáveis, devendo essas serem também consideradas para a salvaguarda de
recursos naturais, mesmo que se tenha que atuar alguns anos para resgatá-las,
como é o caso de manguezais e restingas que foram perturbados ou seriamente
modificados em suas áreas de origem. Para tal, se estimulará a regeneração
natural através de cuidados e técnicas
diversas, além do plantio de sementes e
mudas, entre outras.
9- Que no monitoramento dos impactos ambientais causados
pela poluição atmosférica, hídrica, do solo etc, sejam incluídos também os
malefícios que causam sobre as plantas, animais selvagens e seus ecossistemas,
e não somente em relação ao homem, porque se o equilíbrio biológico ficar
prejudicado as consequências redundarão em prejuízos humanos.
10- Que ao lado de ações fiscalizadoras e punitivas seja implantado um amplo programa de educação ambiental no município desde a pré-escola, de modo a atingir o maior número possível de públicos, incluindo-se neles, principalmente, os empresários e políticos locais.
Eis aí os 10 princípios básicos que sugerimos cuja
viabilidade dependerá, fundamentalmente, da sensibilidade dos poderes
decisórios municipais e da própria comunidade em relação ä causa conservacionista.
O mais é sair do discurso para a prática, de modo que os lucros auferidos
passem a ser contabilizados sob uma nova forma de investimento, que muito mais
que valores financeiros acumulam reconhecimento público, seriedade
administrativa, respeito ao próximo e à
vida.