Colaborador Roberto Rocha
Acompanhando a bola de neve da recente catástrofe japonesa (março, 2011) fico me perguntando: afinal para que serve tanta tecnologia? Fiz a mesma pergunta na ocasião do evento do Golfo do México quando o mundo todo assistia a série de tentativas frustradas para conter o vômito negro fossilizado das entranhas da Terra: certamente revoltada com tanta ganância e irracionalidade. O que queremos afinal? Provar exatamente o quê? Não me parece questão de necessidade urgente. Soa mais como uma onda galopante – tal qual um tsunami – que não respeita nada que tente parar a sua fúria indomável. Quem segura toneladas e toneladas de energia caminhante? Por coincidência ou não, a mesma energia está agora sendo liberada de forma invisível e sofisticada; fruto da genialidade humana, perigosamente curiosa. Depois que já instalamos algumas centenas de unidades nucleares semelhantes, estamos agora nos perguntando, tal qual pai ausente: onde foi que eu errei? Sempre achei estranho construir usinas nucleares sobre placas moles e irrequietas, tal qual as tectônicas. Mas não sou especialista no assunto. Entendo um pouco mais de bichos que se movem, e que comem diariamente a energia que precisam, como eu mesmo faço, animal dependente que sou. No entanto, nem sempre a ignorância científica significa ausência de bom senso. O que conta mesmo, no final de tudo, é sabedoria. Fiquei abismado quando li um artigo que contava o modo através do qual uma tribo “selvagem” planejava suas interferências na natureza. Os mais velhos se reuniam e perguntavam: isso que vocês estão propondo vai afetar a nossa sétima geração? Se a resposta fosse um “sim”, então nada seria feito, até que alguma outra idéia brilhante fosse apresentada para novo julgamento. E nós, humanos sabidos do século XXI, como decidimos nossas viagens? Você já sabe a resposta: nós decidimos pelo caminho do poder aquisitivo, não exatamente acompanhado do poder cooperativo. Quando insistimos em priorizar a sustentabilidade econômica e “esquecemos” – convenientemente (?) – a sustentabilidade ecológica, nós teremos, com certeza, uma bomba relógio sendo armada contra nós mesmos. E o que é mais grave, contra os ecossistemas do planeta, esses sim, nossos verdadeiros guardiões. Nós estamos equivocados. Não podemos lidar com as duas diferentes sustentabilidades – a econômica e a ecológica – dando prioridade para a econômica. Não é a tecnologia humana que sustenta a Terra! A artificialidade tecnicista tenta copiar os sistemas naturais porque eles são a origem de tudo. Eles são o paradigma a ser seguido. Mas o que fazemos? Colocamos o carro na frente dos bois! E vamos nós por aí, nos vangloriando desse feito: que absurdo! Concordo que o “encantamento” tecnológico é uma realidade que atrai o homem. No entanto, podemos chegar à beira de um principício, admirar a paisagem, sem que tenhamos que nos atirar nele. Seria uma loucura! Não estamos negando o novo nem o desconhecido; mas essa busca, deve ser cercada de cuidados preciosos. Deixar extinguir milhares de espécies do planeta, por mera ganância especulativa é o mesmo que se atirar de um penhasco íngreme. Tem muita gente falando sobre sustentabilidade como se fosse uma coisa só, esquecendo que ela tem vários rostos. Se a lógica é semente, germinação. folhas, flores e frutos, por que estamos colocando os frutos antes das folhas? As folhas antes da germinação? A germinação antes da semente? O paradigma já existe e está aí para todo mundo ver. Vamos afirmar mais uma vez: nós viemos depois! O paradigma já existia e foi a partir dele que nós surgimos. Não podemos negar isso ou fingir que não sabemos! Não temos que inventar o que já existe. Só precisamos perceber o óbvio...
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