Colaborador: Roberto Rocha
Em meio às conferências internacionais sobre desenvolvimento e meio ambiente – como se fosse possível separar uma coisa da outra – assusta a falta de prestígio inconteste, que sofrem a flora e fauna do mundo, em especial aquelas dos países tropicais. Discussões e desconfianças se repetem nos “calorosos” debates sobre o aquecimento global: afinal existe ou não um processo ameaçador em evolução, por motivos atmosféricos afetados pelo modo de produzir do inquieto Homo sapiens? Mas existe algo que não necessita de qualquer pesquisa mais aprofundada nem científica. Instituições conservacionistas constatam que só aumentam suas listas de espécies ameaçadas. As primeiras 34 espécies da fauna ameaçadas no Brasil tiveram como documento oficial a Portaria IBDF nº 303/68. Cerca de 20 anos depois o então IBAMA, através da Portaria nº 1.522/89 indicou 206 espécies animais, em sua maioria, vertebrados. As Instruções Normativas MMA nº 3/2003 e nº 5/2004, listaram 627 espécies ameaçadas de extinção, sendo 130 de invertebrados terrestres, 16 de anfíbios, 20 de répteis, 160 de aves, 69 de mamíferos, 78 de invertebrados aquáticos e 154 de peixes. Perceba que estamos apenas falando de animais ameaçados. Não estão aqui as plantas brasileiras, fungos, protozoários. bactérias etc. Se todos fossem considerados a lista seria imensa. E por que se preocupar com criaturas perdidas nos últimos fragmentos florestais do país? Por que motivo, preciso saber mais sobre o papel e a função desses organismos nos sistemas econômicos? A natureza é ainda vista como objeto de decoração, de exposição, de brincadeiras, que amenizam as duras e tristes notícias do cotidiano. Quem valoriza a biota (flora e fauna) como responsáveis insubstituíveis do desenvolvimento humano? Posso ver um poderoso carro do ano numa exposição internacional, mas não consigo ver os minúsculos insetos polinizadores que garantem a alimentação do planeta. Quem se importa com eles? Estão lá, trabalhando sem remuneração nem contratos de trabalho, cumprindo fiel e pontualmente suas “obrigações”. Quem os valoriza? São apenas abordagens sentimentais, poéticas, estéticas, mas não são definitivamente econômicas. Destruímos boa parte da complexidade ecológica necessária ao equilíbrio do todo, em nome de simplificações lucrativas imediatistas. Nós também fazemos parte da biodiversidade terrestre e dependemos da saúde dos ecossistemas atuais. A Terra não sabe que nós “resolvemos” ser algo mais do que um simples componente do sistema. Estamos desafiando um poder que ainda não compreendemos. Somos tão animais como qualquer outro bicho vivente. Não temos o privilégio que forjamos, egoisticamente. Ou cuidamos da biodiversidade para salvar a nossa espécie ou vamos ser excluídos num processo de depuração natural, já que não interessa para o sistema o “colaborador” que não veste a camisa e não torce pelo time.
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