Roberto Rocha
O principal problema do século
XXI não é a mudança do clima porque o clima da Terra nunca foi estável. Sempre
mudou conforme os diferentes cenários e interferências cósmicas e leis físicas.
A questão principal está na astronômica perda de biodiversidade que observamos
hoje porque é ela que sustenta o funcionamento dos atuais sistemas, associada
às condições climáticas. Cada tempo tem sua própria história. Um dia nosso
planeta será estéril ou habitado por criaturas condizentes com as condições de
clima que se apresentarem. A evolução caminhará para outras estradas. Até mesmo
o fato de se extinguir naturalmente é um caminho a ser trilhado e imutável. Vamos
apagar tanto quanto o Sol É apenas uma questão de milhões de anos. A nossa cultura consumista predatória
está nos conduzindo para um destino equivocado e fatal porque o mundo econômico
assim o deseja e nos faz prisioneiros ou nos torna cúmplice desse processo
organizado e culturalmente orquestrado. O mundo econômico não deseja discutir
questões ecológicas que não representem lucros imediatos ou garantias futuras.
Não desejam a sustentabilidade alardeada porque o triple botton line
capitalista só tem uma enorme perna: a econômica. O pilar socioambiental só
interesse para ser consumido ou usado para gerar mais dinheiro e servir a
interesses materiais e não exatamente mais felicidade espiritual. Isso é
loucura! Como falar de sustentabilidade num mundo que mantém a fabricação de
armas poderosas e equipes especializadas para eliminação sumária? Como falar de
preservar espécies alheias se vivemos matando nossos semelhantes? Como plantar
alimentos orgânicos e livres de venenos num mundo que ainda fabrica e investe
fortemente na venda de venenos? Como falar de frutos se o problema está nas
raízes? O povo não ignora os cientistas! O que ocorre, é que ele está sendo
manipulado por personagens específicas e ocupado com distrações vulgares - devidamente
orientadas e inseridas desde os ambientes escolares - para que sejam exatamente
desse jeito: consumidores iludidos. A concepção de qualidade de vida está direcionada
para atender interesses econômicos superficiais e não exatamente os interesses mais
puros e profundos da realização humana. O planeta é visto como um conjunto de
seres e coisas que “servem” ao sistema para sua riqueza material. A busca para
uma qualidade de vida para todos é uma piada para os gananciosos e corruptos de
plantão. Eles – os capitalistas desavisados - não querem saber de qualidade de
vida natural porque isso trava a tecnologia. No mundo capitalista predatório
não existe qualidade de vida para os ecossistemas funcionarem perfeitamente se
eles não gerarem lucros e saldos bancários positivos. Não existe o existir “por”
existir. Apenas o existir “para” existir. Esse é o grande desafio! Ninguém quer
ser mais paleolítico! Mas nossa herança hominídea nos mostra que – mesmo sendo
uma criatura com cérebro reptiliano – podemos evoluir em outros sentidos mais
nobres e espirituais; menos selvagens, menos desconfiados e medrosos. O fato é
que fomos “atropelados” por uma cultura de ferramentas incompatíveis com a
nossa biologia naturalmente herdada. É simples de entender! E poderíamos ser
diferentes, mas existe uma minoria no mundo que não está interessada nos
aspectos históricos que nos forjaram. Muito menos na biota que se esgota
rapidamente. Só existe um interesse maior: manter o sistema econômico como o
mais importante de todos. Quando existir um grupo interessado e ativo voltado
para a vertente socioambiental, sem ser seu usurpador e dono, então teremos alguma
chance de nos fazer ouvir e até enxergar uma luz no fundo do túnel. Mas o túnel
escuro que construímos – e continuamos a aumentar – deixa cada vez mais
distante o acesso à luz brilhante. A biodiversidade vai desaparecer numa escala
em números e num tempo curto, de forma muito mais letal do que qualquer
tentativa frustrada para mudar o clima. Podemos mudar sim o cenário atual que
afeta a biodiversidade, mas não poderemos fazer muita coisa pelo clima. Ele é autônomo.
O planeta não se preocupa com partes irrelevantes como nós somos. Só nós mesmos
é que nos achamos relevantes. O planeta está morrendo. Assim como o Sol. É um
processo em andamento. Estamos esfriando de fora para dentro. Às vezes mais, às
vezes menos, porque ainda temos uma bola de fogo ardente dentro dessa pequena
geosfera que não deseja se apagar logo. Vai levar ainda um bom tempo. Só não
sei se vamos estar por aqui. Quem sabe num outro planeta estéril, para construir
um modelo mais sensato do que o que temos. Nesse novo mundo vamos refletir sobre
a nossa estupidez: de ter vivido num planeta maravilhoso que ocupamos gratuitamente;
mas que – por outro lado – não soubemos respeitar. E teremos que desconstruir o
inferno amaldiçoado que criamos em busca de uma felicidade que estava em nossas
mãos o tempo todo e não fomos capazes de perceber...