sábado, 13 de maio de 2017

Percepções de um mundo humano equivocado


Roberto Rocha
O principal problema do século XXI não é a mudança do clima porque o clima da Terra nunca foi estável. Sempre mudou conforme os diferentes cenários e interferências cósmicas e leis físicas. A questão principal está na astronômica perda de biodiversidade que observamos hoje porque é ela que sustenta o funcionamento dos atuais sistemas, associada às condições climáticas. Cada tempo tem sua própria história. Um dia nosso planeta será estéril ou habitado por criaturas condizentes com as condições de clima que se apresentarem. A evolução caminhará para outras estradas. Até mesmo o fato de se extinguir naturalmente é um caminho a ser trilhado e imutável. Vamos apagar tanto quanto o Sol É apenas uma questão de milhões de anos. A nossa cultura consumista predatória está nos conduzindo para um destino equivocado e fatal porque o mundo econômico assim o deseja e nos faz prisioneiros ou nos torna cúmplice desse processo organizado e culturalmente orquestrado. O mundo econômico não deseja discutir questões ecológicas que não representem lucros imediatos ou garantias futuras. Não desejam a sustentabilidade alardeada porque o triple botton line capitalista só tem uma enorme perna: a econômica. O pilar socioambiental só interesse para ser consumido ou usado para gerar mais dinheiro e servir a interesses materiais e não exatamente mais felicidade espiritual. Isso é loucura! Como falar de sustentabilidade num mundo que mantém a fabricação de armas poderosas e equipes especializadas para eliminação sumária? Como falar de preservar espécies alheias se vivemos matando nossos semelhantes? Como plantar alimentos orgânicos e livres de venenos num mundo que ainda fabrica e investe fortemente na venda de venenos? Como falar de frutos se o problema está nas raízes? O povo não ignora os cientistas! O que ocorre, é que ele está sendo manipulado por personagens específicas e ocupado com distrações vulgares - devidamente orientadas e inseridas desde os ambientes escolares - para que sejam exatamente desse jeito: consumidores iludidos. A concepção de qualidade de vida está direcionada para atender interesses econômicos superficiais e não exatamente os interesses mais puros e profundos da realização humana. O planeta é visto como um conjunto de seres e coisas que “servem” ao sistema para sua riqueza material. A busca para uma qualidade de vida para todos é uma piada para os gananciosos e corruptos de plantão. Eles – os capitalistas desavisados - não querem saber de qualidade de vida natural porque isso trava a tecnologia. No mundo capitalista predatório não existe qualidade de vida para os ecossistemas funcionarem perfeitamente se eles não gerarem lucros e saldos bancários positivos. Não existe o existir “por” existir. Apenas o existir “para” existir. Esse é o grande desafio! Ninguém quer ser mais paleolítico! Mas nossa herança hominídea nos mostra que – mesmo sendo uma criatura com cérebro reptiliano – podemos evoluir em outros sentidos mais nobres e espirituais; menos selvagens, menos desconfiados e medrosos. O fato é que fomos “atropelados” por uma cultura de ferramentas incompatíveis com a nossa biologia naturalmente herdada. É simples de entender! E poderíamos ser diferentes, mas existe uma minoria no mundo que não está interessada nos aspectos históricos que nos forjaram. Muito menos na biota que se esgota rapidamente. Só existe um interesse maior: manter o sistema econômico como o mais importante de todos. Quando existir um grupo interessado e ativo voltado para a vertente socioambiental, sem ser seu usurpador e dono, então teremos alguma chance de nos fazer ouvir e até enxergar uma luz no fundo do túnel. Mas o túnel escuro que construímos – e continuamos a aumentar – deixa cada vez mais distante o acesso à luz brilhante. A biodiversidade vai desaparecer numa escala em números e num tempo curto, de forma muito mais letal do que qualquer tentativa frustrada para mudar o clima. Podemos mudar sim o cenário atual que afeta a biodiversidade, mas não poderemos fazer muita coisa pelo clima. Ele é autônomo. O planeta não se preocupa com partes irrelevantes como nós somos. Só nós mesmos é que nos achamos relevantes. O planeta está morrendo. Assim como o Sol. É um processo em andamento. Estamos esfriando de fora para dentro. Às vezes mais, às vezes menos, porque ainda temos uma bola de fogo ardente dentro dessa pequena geosfera que não deseja se apagar logo. Vai levar ainda um bom tempo. Só não sei se vamos estar por aqui. Quem sabe num outro planeta estéril, para construir um modelo mais sensato do que o que temos. Nesse novo mundo vamos refletir sobre a nossa estupidez: de ter vivido num planeta maravilhoso que ocupamos gratuitamente; mas que – por outro lado – não soubemos respeitar. E teremos que desconstruir o inferno amaldiçoado que criamos em busca de uma felicidade que estava em nossas mãos o tempo todo e não fomos capazes de perceber...

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