Roberto Rocha
Os hominídeos
da pré-história não tinham o domínio da ciência e das artes como conhecemos
hoje. No entanto, deviam perceber
nuances da natureza que, nós – Homo sapiens mais “modernos” – esquecemos ou
anestesiamos com luzes e cores muito fortes e apelativas e sinais rápidos e
convincentes. É possível que
ainda na Idade Antiga existisse uma busca pela compreensão do que seria a
natureza, habitada por seres que sentiam (mundo orgânico), e não por peças
frias, como ocorreria nos séculos seguintes.
A idéia aristotélica de
natureza como algo animado e vivo, na qual as espécies procuram realizar seus
fins naturais, é substituída pela idéia de uma natureza sem vida e mecânica. A
natureza de cores, tamanhos, sons, cheiros e toques, é substituída por um mundo
“sem qualidades”. Um mundo que evita a associação com a sensibilidade (GRÜN,
2000, p. 27).
O mecanicismo
substituiria essa idéia inicial e novas contribuições seriam incorporadas através
da participação dos grandes pensadores da época, tais como Galileu Galilei
(1564-1642), Francis Bacon (1561-1626), Descartes (1596-1650) e Isaac Newton
(1642-1727). A revolução científica traria contribuições relevantes para
orientar a nova ordem social e econômica.
A modernidade
teria René Descartes como principal mentor da objetivação da natureza em sua
tentativa de dominá-la e, ao mesmo tempo, manter a autonomia da razão (sujeito).
A física
newtoniana, por sua vez, influenciará a educação:
A possibilidade de uma descrição da natureza
estabelecida pelo programa newtoniano não define um simples conceito de
natureza. Esta possibilidade define um modelo de interpretação do mundo
sustentado no modelo explicativo mecânico-causal. O modelo atomístico reducionista
irá estabelecer as estruturas conceituais dos currículos e, mais do que isso,
ele passará a ser a única forma possível de conceber a realidade. De um certo
modo ele passa a ser a própria realidade. Neste período todo um corpo de
saberes ecologicamente sustentáveis é deixado de lado no currículo por não ser
científico, ou seja, por não ser mecanicista (GRÜN, 2000, p. 41).
Segundo
Prigogine (1991 apud GRÜN, 2000, p.
57) “a mecânica clássica negou as questões mais “evidentes” que a experiência
das relações dos seres humanos com o mundo suscita porque era incapaz de lhe
dar um lugar”. O abandono do modelo cartesiano-newtoniano na educação e a sua
substituição por práticas mais amplas tornar-se-á uma tarefa hercúlea. Um dos
motivos que explicam esse reducionismo ainda em nossos dias é a dificuldade de
concebermos o meio ambiente como um “todo” preferindo a dualidade fictícia
homem-natureza como se ela fosse real.
Reigota (1994)
explica que os conceitos científicos sobre o que seja meio ambiente “são de
conhecimento geral pelos pesquisadores”. No entanto, o senso comum também elabora suas
definições com base em preconceitos e ideologias, surgindo assim diferentes
definições sobre um mesmo tema.
Ao examinarmos
as definições populares que procuram explicar o que seja meio ambiente uma das
mais comuns é: “tudo que nos envolve”!
Como se nós não estivéssemos fazendo parte do mesmo contexto. Algo que está afastado de nós, como se não
nos afetasse diretamente. Nós estamos aqui, e a natureza está lá! Quando
precisamos dela, nós a usurpamos. Apesar disso, definições mais recentes como a
que foi apresentada no documento de Tbilisi (UNESCO, 1980), inclui os valores
humanos em sua recomendação n. 2: “o conceito de meio ambiente abrange uma
série de elementos naturais, criados pelo homem, e sociais da existência
humana, e que os elementos sociais constituem um conjunto de valores culturais,
morais e individuais, bem como de relações interpessoais no trabalho e nas
atividades de lazer”. Mesmo nessa abordagem mais ampla, o homem não está –
claramente – sendo chamado de “ambiente”, e os elementos parecem estar
classificados em categorias diferenciadas.
Apesar de
vivermos em pleno século XXI, permanecem ainda presentes diversos conceitos que
procuram explicar um mesmo tema, causando assim alguns equívocos. As leituras
fragmentadas dificultam a compreensão do meio ambiente como um todo. A
abordagem do assunto a partir de uma vertente socioambiental exige uma profunda
reflexão sobre os nossos procedimentos atuais: “os problemas que o
cartesianismo coloca para a educação ambiental são problemas que enquanto não
tratados comprometem as próprias condições de possibilidade da educação
ambiental” (GRÜN, 2000, p. 58).
Ao
afirmarmos “somos ambiente” a mensagem soa mal aos ouvidos porque temos
dificuldades em aceitar que quase todo o nosso corpo é feito de água, sais
minerais, gases e outras substâncias. Nosso orgulho de ser uma criatura
inteligente nos afasta da simplicidade e do banal, por nos considerarmos
especiais. No entanto, é na morte que percebemos nossas reais limitações e
vamos nos juntar à terra outra vez. Voltar a ser um verme, ou um fungo, como
éramos antes de assumir nosso corpo. “Nossa” água e nossos sais vão vagar por
aí. Quem sabe, subir pelas raízes das
plantas, e se instalar em algum fruto ou folha, que irão fazer parte da
refeição de alguém? Vamos voltar ao pó, de onde viemos! Enquanto isso não acontece, continuamos
iludidos de que realmente fazemos diferença no mundo. Que o mundo nos pertence
e existe somente para nosso uso e deleite. Na ânsia de criar e produzir estamos
desrespeitando regras de ouro, que nos convidam a viver em harmonia, em
cooperação, mas não exatamente com o extermínio da nossa própria espécie e das
outras, numa competição acirrada pelo poder e domínio. Acordar é preciso! Mas
não de nosso sono corriqueiro.
Precisamos acordar de uma viagem
equivocada que se dirigiu para um ponto fictício, onde corremos um grande risco
de chegar e encontrar nele apenas decepção e sofrimento.
REFERÊNCIAS
REIGOTA, Marcos. O
que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994.
UNESCO (United Nations Educational, Scientific and
Cultural Organization). La educacion ambiental: las grandes orientaciones de la Conferencia de
Tbilisi. Paris: ONU, 1980.
ADORAMOS A SUA VISITA NO NOSSO STANDE NO POP CIÊNCIA! Sandra Mara Lima Mendes www.msb.br
ResponderExcluirProfessor, gostaria de falar com o senhor. Qual o seu e-mail?
ResponderExcluirLapin
ExcluirNosso e mail é prodomogaia@gmail.com