sexta-feira, 3 de junho de 2011

Perda da biodiversidade brasileira: a discussão necessária inequívoca e desprezada


Colaborador: Roberto Rocha


 Em meio às conferências internacionais sobre desenvolvimento e meio ambiente – como se fosse possível separar uma coisa da outra – assusta a falta de prestígio inconteste, que sofrem a flora e fauna do mundo, em especial aquelas dos países tropicais. Discussões e desconfianças se repetem nos “calorosos” debates sobre o aquecimento global: afinal existe ou não um processo ameaçador em evolução, por  motivos atmosféricos afetados pelo modo de produzir do inquieto Homo sapiens? Mas existe algo que não necessita de qualquer pesquisa mais aprofundada nem científica. Instituições conservacionistas constatam que só aumentam suas listas de espécies ameaçadas. As primeiras 34 espécies da fauna ameaçadas no Brasil tiveram como documento oficial a Portaria IBDF nº 303/68. Cerca de 20 anos depois o então IBAMA, através da Portaria nº 1.522/89 indicou 206 espécies animais, em sua maioria, vertebrados. As Instruções Normativas MMA nº 3/2003 e nº 5/2004, listaram 627 espécies ameaçadas de extinção, sendo 130 de invertebrados terrestres, 16 de anfíbios, 20 de répteis, 160 de aves, 69 de mamíferos, 78 de invertebrados aquáticos e 154 de peixes. Perceba que estamos apenas falando de animais ameaçados. Não estão aqui as plantas brasileiras, fungos, protozoários. bactérias etc. Se todos fossem considerados a lista seria imensa. E por que se preocupar com criaturas perdidas  nos últimos fragmentos florestais do país? Por que motivo, preciso saber mais sobre o papel e a função desses organismos nos sistemas econômicos? A natureza é ainda vista como objeto de decoração, de exposição, de brincadeiras, que amenizam as duras e tristes notícias do cotidiano. Quem valoriza a biota (flora e fauna) como responsáveis insubstituíveis do desenvolvimento humano? Posso ver um poderoso carro do ano numa exposição internacional, mas não consigo ver os minúsculos insetos polinizadores que garantem a alimentação do planeta. Quem se importa com eles? Estão lá, trabalhando sem remuneração nem contratos de trabalho, cumprindo fiel e pontualmente suas “obrigações”. Quem os valoriza? São apenas abordagens sentimentais, poéticas, estéticas, mas não são definitivamente econômicas. Destruímos boa parte da complexidade ecológica necessária ao equilíbrio do todo, em nome de simplificações lucrativas imediatistas. Nós também fazemos parte da biodiversidade terrestre e dependemos da saúde dos ecossistemas atuais. A Terra não sabe que nós “resolvemos” ser algo mais do que um simples componente do sistema. Estamos desafiando um poder que ainda não compreendemos. Somos tão animais como qualquer outro bicho vivente. Não temos o privilégio que forjamos, egoisticamente. Ou cuidamos da biodiversidade para salvar a nossa espécie ou vamos ser excluídos num processo de depuração natural, já que não interessa para o sistema o “colaborador” que não veste a camisa e não torce pelo time.


domingo, 22 de maio de 2011

Por uma revolucionária economia conservacionista

 Colaborador: Roberto Rocha

Buscar novos paradigmas econômicos que substituam o capitalismo selvagem dos últimos séculos, inclui olhares para a Economia da Conservação:  uma forma de produzir sem desconsiderar os modelos homeostásicos naturais e bilenares do sistema Terra. Essa modalidade econômica vem se juntar à Biologia da Conservação e à Medicina da Conservação, ambas também focadas nos serviços dos ecossistemas e na saúde ambiental. Note que o termo conservação aparece em todas elas, e não é sem motivos, porque a natureza atua com bases em leis rigorosas, incluindo medidas econômicas altamente eficientes e eficazes. É muito provável que o nome “ecoeficiência”, utilizado como uma das matrizes do desenvolvimento sustentável, tenha sido adotado como mimético da verdadeira capacidade dos ecossistemas em não dissiparem energia desnecessariamente. Não custa lembrar que essa prática tecnicista é reducionista e não chega nem perto de uma verdadeira mega-economia planetária ou universal (assim como é em cima é embaixo: mas é preciso que os economistas dinossauros aceitem a máxima que faz tudo acontecer de forma ampla e irrestrita). Gaia nos dá aulas incríveis de economia natural em todos os lugares onde se possa perceber qualquer tipo de transformação, seja nas florestas, nos oceanos e, até mesmo em suas entranhas, onde embates de placas e de magma pastoso derretido promovem revoltas incríveis e “chocantes”. Se a economia tradicional engessada conseguir perceber o óbvio, vamos economizar tremendamente. A questão principal é que as empresas – muitas vezes – já sabem como economizar; e isso “pode não interessar” por outros motivos: políticos, amizades, acordos e porcentagens. Representam outras formas de lucrar, que não são exatamente “vivos dinheiros”, mas são “dinheiros vivos”. Um aperto de mão, um olhar, um sorriso, uma batidinha nas costas, podem ser agrados que direcionam e sinalizam negócios e valores. Mais do que questões econômicas ou ecológicas, são questões éticas! Falar de economia sem falar de ética, é chover no molhado! E até onde a ética tem sido considerada nas questões econômicas atuais? Apenas os contratos legais são suficientes para garantir uma correta transação? As leis sozinhas podem garantir uma justa negociação? Mesmo as leis, são propostas provisórias. São revogadas de tempos em tempos porque são incompletas e falhas. Nossas convicções também. Se uma cultura diz: mate!. Você mata! Se ela diz: salve! Você salva! Somos culturalmente coesos. Existe um “outro” que também decide, invisível, que não mora dentro da nossa mente, mas que nos comanda também. É algo pré-histórico e coletivista, lá do paleolítico, dos homens das cavernas, meio irracional. São as torcidas que gritam “gol” quando o “inimigo” é “abatido simbolicamente” ao vazar as traves,  no coração do adversário, sem sangrar. São as demonstrações agressivas de territorialidade nas periferias dos estádios, mesmo depois da “guerra” acabada. Uma coisa é a técnica e outra é a tradição. É mais fácil mudar uma técnica! Mas, e a tradição?  Podemos ter uma ótica pontual, mas de que vale a ótica sem a ética? O consumidor tem em suas mãos um trunfo letal. Mesmo afogado nas propagandas e nas técnicas de “fazer consumir” ele ainda é o “dono da festa”. Basta um aceno, e cabeças rolam!. Milhões de dólares vão pelo ralo com três letras e um til: não! Que poder infernal, este de um povo consciente, crítico e reflexivo! Já estamos falando de consumo ético, consumo responsável, consumo político. E por que não, uma sociedade ética? Economia sem ética é economia caótica. Vamos considerar as nossas “ticas”: as com “é” e as com “ó”. Quem sabe alinhamos também as nossas “eco”:  a “logia” e a “nomia”?   Quem sabe ainda podemos ser felizes, tradicionalmente?

domingo, 8 de maio de 2011

Envolvimento (fase1), des-envolvimento (fase 2), des-envolvimento sustentável (fase 3) e plena sustentabilidade (fase 4): assim caminha a humanidade...

Colaborador Roberto Rocha

Refletindo sobre a onda de "sustentabilidade" que cobre o mundo,  fui procurar no passado remoto da nossa espécie, quando foi que perdemos a ligação sagrada com a natureza e passamos a venerar o tecnicismo como nosso deus de cada dia. Revendo cenas imaginárias dos  costumes dos hominídeos primitivos, vamos encontrar nosso ancestral olhando para o fogo de uma mata próxima, já sentindo o cheiro da carne queimada dos animais. Passado o perigo incendiário e seguido de outros predadores mais originais, segue ele em busca de "churrascos" misturados com a cinza salgada do chão: uma verdadeira iguaria! Depois de comer muito, ele reflete se vale a pena levar alguns pedaços para o grupo distante, mesmo se arriscando a atrair outros comedores de carne mais possantes. Afinal, a carne tostada leva o cheiro mais distante do que o sangue coagulado. Desconfiado, mas não menos sábio, decide não se arriscar e come mais um pouco de modo que a energia poderá ficar guardada dentro do seu corpo e não atrairá a atenção de ninguém. Com ela poderá andar livremente, sem peso nas costas, e abater outra presa ou procurar alguma outra já recém-morta sem colocar em risco a sua curta vida. Me dou conta então que viajei no tempo e construí um cenário que bem pode ter acontecido; embora, nem todos os fósseis coletados possam descrever, com tamanha precisão, todos esses detalhes. Esse hominídeo vivia "envolvido" com a natureza e dependia dela todo o tempo. O homem era a própria natureza e não imaginava outra coisa, porque essa era a verdadeira realidade. Mas o que fizemos nós, passados alguns milhares de anos? Resolvemos ser independentes e tomar as nossas próprias decisões, carregando nosso cérebro com informações e pensamentos mais ousados. Aprendemos então a usar o fogo, no lugar somente de somente aproveitá-lo em eventos incendiários. Acho que foi aqui lançada a pedra fundamental da manipulação da tecnologia para nossos interesses direcionados. Novas armas e instrumentos nos levaram a conquistar  novos espaços e inventar novos meios de nos satisfazer de modo mais autônomo. Certamente, foi a partir daí, que tivemos a sensação de que nós seríamos os condutores do mundo. A Revolução Industrial nos daria um poder jamais visto em qualquer tempo. Mais satisfações e sonhos seriam atendidos e perseguidos. Aos poucos fomos nos "des-envolvendo" com as nossas raízes, e fomos buscar novas aventuras num mundo mais nosso do que do divino. O des-envolvimeto passou a ser uma prática comum, com cada vez, mais hominídeos se separando da vida natural. Essa euforia inicial nos lançou num círculo de produção selvagem e destruidora, até porque não conhecíamos as consequencias desses descaminhos. Fumaça preta era então sinônimo de riqueza. E realmente era assim!  Passamos a ter acesso a novidades incríveis! Que hominídeo pode resistir a uma novidade? Impossível! Somente alguns séculos depois é que passamos a reconhecer alguns enganos. Passada então a primeira fase (envolvimento) e a segunda (des-envolvimento), resolvemos acrescentar a palavra sustentável, mostrando já alguma sensibilidade e reconhecimento de que algumas coisas não tinham dado certo. Isto é, embora ainda desligados do mundo natural estávamos agora desejando sustentar somente algumas coisas essenciais, mas sem os exageros do passado avassalador. Com a entrada do século XXI, estamos agora nos encorajando para uma quarta fase - a da sustentabilidade autêntica. Isto é, uma compreensão mais apurada de que nós realmente não podemos viver separados da natureza e apenas nos locupletando dela, sem maiores cuidados. Já estamos percebendo - por causa dos prejuízos astronômicos acumulados com os recente desastres - que nós fomos longe demais em nossas "viagens" intelectuais e econômicas. Que precisamos sim, ser mais humildes e dependentes. Afinal, nós somos mesmo ambiente. Não poderemos ser máquinas ambulantes com cérebro pensante. Seria completamente anti-natural. Não acredito que isso possa trazer felicidade para qualquer pessoa. Somos pele, somos cheiros, somos sabores. Ninguém pode sentir nada com um beijo de lata, mesmo com  ilusões programadas. A proposta da sustentabilidade deve considerar essas nuances. Não poderemos passar de um pólo para outro tão rapidamente. Precisaremos de um tempo para sair do des-envolvimento sustentável  para a sustentabilidade ampla. Isso deverá nos pressionar a recuarmos em nossas intenções mais arrojadas: um grande desafio! Passado todo esse tempo e todas as conquistas, o homem permanece curioso e aventureiro. Como resolver isso? A questão é que no passado, tínhamos a natureza ainda tolerante com as nossas elucubrações. Agora, parece que ela não está muito satisfeita. Tem nos mostrado sua revolta por diversas vezes. Até onde podemos desafiá-la? Logo ela que tem um invejável currículo de vitórias e experiências, as mais desafiadoras, em quase cinco bilhões de anos? E nós, com apenas alguns milhares, quem sabe duzentos ou trezentos mil anos? Quem tem mais experiência? Quem sabe possamos recuar e convidá-la  para um novo envolvimento? Como o casal que se separa e volta? Quem sabe, ainda possamos ser felizes? O que fará acontecer esta união e retorno?  Um presente caro? Quem sabe seja deixar de ser tão petulante e ambicioso? Menos artificial e mais natural? Mais solidário e menos agressivo? Menos máquina e mais coração...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O QUE É MELHOR: usar combustível fóssil ou biocombustível?




Colaborador Roberto Rocha

Quando me fizeram essa pergunta, eu já ia respondendo que o biocombustível era renovável e o fóssil não era. Mas, depois de uma breve reflexão, afirmei: o melhor é usar o combustível fóssil!. Quando vi o espanto na face de quem me perguntou, fez acender meu alerta: acho que falei uma besteira! Imagine! Todos afirmam que o que vem da natureza é mais saudável e se renova! E agora, como explicar tal desacordo?  Lembrei então da definição do que é o petróleo: uma substância oleosa, de origem orgânica, resultado da decomposição de seres invertebrados que viveram num passado distante. Está aí o grande achado: o petróleo é de origem biológica, portanto é um biocombustível tanto quanto qualquer outro proveniente de um organismo vivo do qual se extraia energia. Mas então, por que tanta discussão? E qual seria  a tal vantagem? Pensei outra vez e respondi com convicção: petróleo é resultado das criaturas que desapareceram no passado e não deixaram descendentes, mas apenas seus corpos transformados. Sabemos que as espécies atuais vieram de espécies ancestrais, pela evolução, mas as formas recentes apresentam relevantes diferenças em suas aparências. Podemos pensar numa girafa e, ao mesmo tempo, num dinossauro de pescoço comprido, como se fossem parentes. No entanto algumas delas eram muito semelhantes, como no caso das tartarugas e jacarés. O amigo que estava comigo insistiu: e por que você é a favor de algo que tanta gente combate? Não é que eu seja a favor! Todo mundo afirma que a queima de combustível fóssil libera CO2 e agrava o efeito estufa, fenômeno conhecido como aquecimento global. Mas, continuei, embora o CO2 seja o vilão da história (?), existem atividades humanas que liberam outros gases (muito mais agressivos) que contribuem para esquentar o planeta, tais como as culturas de arroz – que liberam metano - e aqueles provenientes dos fertilizantes que cobrem o Brasil inteiro. As queimadas chegam a impedir o transporte aéreo em determinadas regiões do país. A questão central é que quando retiramos a energia de criaturas que já desapareceram, e que estavam “guardadas” a muitos metros de profundidade, nós não estamos causando erosão genética, isto e, não estamos matando a biodiversidade do planeta, porque ela já está morta. Não podemos omitir o fato de que a exploração de petróleo também elimina biodiversidade recente, como ocorreu no Golfo do México.  Entretanto, quando você planta - deliberadamente - cana-de-açúcar, soja, milho, mamona e qualquer outro vegetal para implantar monoculturas, você precisa retirar a floresta - porque essas plantas são de crescimento rápido, precisam de muito sol e não crescem debaixo de sombra,  como ocorre com o cacaueiro – que  nos fornece excelente chocolate, produto muito procurado. Na pecuária é a mesma coisa: as capineiras (capim para alimentar o gado) precisam de locais abertos e planos, bastante ensolarados. O gado precisa de espaço para circular e pisoteia tudo que estiver por baixo. Não há mata nativa que aguente tantas invasões. Embora o Brasil seja um país megadiverso – muito rico em biodiversidade – nós (?) preferimos criar e cultivar espécies de outros países que nunca existiram por aqui, como o boi, o cavalo, o porco, a galinha etc.  A grande maioria é importada, para gerar lucro rápido. As nossas espécies (indígenas, autóctones ou nativas) são pouco conhecidas ainda para se saber se poderão substituir  com vantagens essas espécies alienígenas ou exóticas. Falta pesquisa e investimento pesado. Entendo que não se queira trocar o certo pelo duvidoso, mas no passado, tudo era incerto também.  Ocorre que as espécies brasileiras podem servir não apenas para produzir energia e pasto para gado em espaços devidamente controlados. Elas podem significar bases químicas importantes para a medicina, oferecendo novos antibióticos, antihemorrágicos, antidepressivos, anticancerígenos, analgésicos e tantos outros, sem que se tenha que destruí-las, como vem ocorrendo intensamente. Muitas desaparecem sem serem ao menos identificadas. As listas de espécies ameaçadas aumentam no mundo inteiro e não mostram sinais de restauração. Os poucos sucessos obtidos para salvar alguma espécie da extinção, são alardeados como que se estivéssemos agitando, desesperadamente, uma bandeira de alerta para o resto do mundo, impassível e imediatista. Uma floresta com todos os seus componentes devidamente funcionais precisa de alguns séculos para alcançar seu clímax. Como apresentar tal discurso num mundo de fibras óticas e computadores que trabalham na velocidade dos nossos pensamentos? Meu colega ficou meio triste, depois da explicação e me disse: mas o que estamos fazendo então é uma imbecilidade! Eu pensei outra vez: não tenho muita certeza. Quem lida com aspectos econômicos de grande alcance, tem acesso a informações que a maioria da população ignara não tem. Não são imbecis. A questão não é só de conhecimentos. Existem outras motivações próprias do homem, para enfrentar desafios, novos caminhos e conquistas que não podem ser esquecidas. Somos primatas curiosos, queremos mudar o mundo que nos cerca. No entanto, acredito que ainda não estamos completamente insanos para desejar a nossa própria morte e a dos nossos filhos e netos. O problema é que a natureza é lenta, mas muito competente. Estamos subestimando suas forças. Ela não vai perder essa parada! Estamos cutucando o diabo com vara curta. Ela, de tão generosa que é, já vem nos alertando para as consequencias de nossas escolhas equivocadas. Nós, continuamos a ignorá-la, como deuses supremos que não precisam de conselhos. Ela, paciente como sempre, vai esperar, até que tudo volte a ficar como sempre foi...

domingo, 27 de março de 2011

AFINAL: O QUE É SUSTENTABILIDADE?



Colaborador Roberto Rocha

Sustentabilidade é uma intenção louvável que precisa ser complementada com a indicação de um setor melhor definido. Já ouvi, muitas vezes: o Brasil é um exemplo para o mundo, em relação à sua legislação ambiental! Com certeza! Temos muitas leis que “protegem” a natureza. Mas quando você verifica a aplicação prática dessas mesmas leis, descobre que ainda estamos muito longe de uma realidade ideal. Se desejarmos realmente realizar alguma coisa será preciso que, ao lado dos discursos teóricos, possamos colocar em prática as orientações preconizadas. E como fazer isso?

A sugestão que oferecemos é a seguinte: sempre que desejarmos iniciar uma ação sustentável, que ela identifique - de imediato - qual a orientação legal pertinente, que pode ser oriunda de alguma política nacional já regulamentada. Por exemplo, para a sustentabilidade hídrica devemos começar conhecendo a Política Nacional de Recursos Hídricos e outras normas que possam estar relacionadas a ela; para a sustentabilidade de práticas educativas relacionadas ao ambiente, vamos começar conhecendo a Política Nacional de Educação Ambiental e outras normas relacionadas a ela; para a sustentabilidade climática, devemos começar com a Política Nacional de Mudanças Climáticas; para a sustentabilidade ambiental  devemos consultar a Política  Nacional de Meio Ambiente; para as questões de saúde, começar com a Política Nacional de Atenção à Saúde, o próprio Sistema Único de SaúdeSUS e outros mais. Muitas questões ambientais foram orientadas também pelas contribuições de muitos pesquisadores em conferências internaacionais. Voce lembra da ECO-92?

A partir de orientação nacionais, passamos para o nível estadual, em busca de POLÍTICAS ESTADUAIS e outros documentos da mesma área.de interesse. Fazer o mesmo procedimento. Na terceira etapa, vamos examinar o PLANO DIRETOR, já a nível municipal. Dessa forma teremos todo um embasamento legal das ações de sustentabilidade divididas por grandes áreas ou setores mais específicos conforme os recursos disponíveis, seja de equipamentos, de capacitação ou  de gente. Muitas vezes temos gente, mas as pessoas precisam de capacitação. Ou ainda: temos gente, poder  de capacitação, mas não temos equipamentos. E ainda mais. Temos gente, temos poder de capacitação, temos os equipamentos mas não temos motivação. É um grande desafio na verdade, juntar todas essas possibilidades.

No entanto, entendo que há um caminho viável. Não é nenhuma viagem ao Sol. As orientações já estão previstas na legislação. Depende sim de vontade política, seja do poder público, seja do privado. Se não existir orçamento para cumprir toda a legislação vigente, que se atendam as prioritárias em cada secretaria específica. O importante é que, na grande maioria dos casos, não precisamos de consultores internacionais ou nacionais para nos dizer o que fazer, simplesmente porque é desnecessário. Serão úteis em questões que não tenhamos conhecimentos especializados na área ou não exista nenhuma orientação legal a respeito. Por exemplo, podemos saber quais são as espécies nativas a serem plantadas nas margens dos rios de uma mesma bacia hidrográfica, simplesmente visitando um herbário (onde existem amostras de exemplares coletados em diversas áreas), consultando artigos científicos ou percorrendo áreas próximas com matas ciliares preservadas. O mesmo ocorre nas reservas legais.

Existem no Brasil divesos projetos, manuais e exemplos de sucesso de conservação de áreas degradadas. Prestar atenção porque para a conservação é possível fazer recuperação e/ou restauração. A RECUPERAÇÃO é uso de espécies nativas - não necessariamente daquele ecossistema específico - aliado a artifícios que possam atrair a fauna regional para o local, que contribua com a dispersão de sementes na área). RESTAURAÇÃO é feita com base exclusiva em espécies nativas, adaptadas e especializadas para cada ecossistema). Matas ciliares das áreas de preservação permanentes são constituídas por espécies nativas adaptadas a esses ecossistemas com base em milhares de anos de evolução. Nesse caso a vegetação original não pode ser substituída por espécies exóticas em suas funções específicas. Nem mesmo por nativas que não estão adaptadas às margens de rios, lagos, sob constantes encharcamentos (saturação de água no solo).  

Concluindo: para orientar a administração pública ou privada – sustentáveis - podemos contar com políticas e planos já existentes, e simplesmente, cumpri-los. O PLANO DIRETOR (como o próprio nome indica)  é quem direciona as ações das Prefeituras, com base ainda nas políticas estaduais, nacionais e documentos internacionais. Não temos que inventar demais. Muitas orientações já existem mas são negligenciadas. A propósito: você já deu uma olhada no PLANO DIRETOR do seu município para ver o que ele diz sobre alguma área que lhe interesse especificamente?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sustentabilidade econômica e sustentabilidade ecológica: quem depende de quem?



 Colaborador Roberto Rocha

Acompanhando a bola de neve da recente catástrofe japonesa (março, 2011) fico me perguntando: afinal para que serve tanta tecnologia? Fiz a mesma pergunta na ocasião do evento do Golfo do México quando o mundo todo assistia a série de tentativas frustradas para conter o vômito negro fossilizado das entranhas da Terra: certamente revoltada com tanta ganância e irracionalidade. O que queremos afinal? Provar exatamente o quê? Não me parece questão de necessidade urgente. Soa mais como uma onda galopante – tal qual um tsunami – que não respeita nada que tente parar a sua fúria indomável. Quem segura toneladas e toneladas de energia caminhante? Por coincidência ou não, a mesma energia está agora sendo liberada de forma invisível e sofisticada; fruto da genialidade humana, perigosamente curiosa. Depois que já instalamos algumas centenas de unidades nucleares semelhantes, estamos agora nos perguntando, tal qual pai ausente: onde foi que eu errei? Sempre achei estranho construir usinas nucleares sobre placas moles e irrequietas, tal qual as tectônicas. Mas não sou especialista no assunto. Entendo um pouco mais de bichos que se movem, e que comem diariamente a energia que precisam, como eu mesmo faço, animal dependente que sou. No entanto, nem sempre a ignorância científica significa ausência de bom senso. O que conta mesmo, no final de tudo, é sabedoria. Fiquei abismado quando li um artigo que contava o modo através do qual uma tribo “selvagem” planejava suas interferências na natureza. Os mais velhos se reuniam e perguntavam: isso que vocês estão propondo vai afetar a nossa sétima geração? Se a resposta fosse um “sim”, então nada seria feito, até que alguma outra idéia brilhante fosse apresentada para novo julgamento. E nós, humanos sabidos do século XXI, como decidimos nossas viagens? Você já sabe a resposta: nós decidimos pelo caminho do poder aquisitivo, não exatamente acompanhado do poder cooperativo. Quando insistimos em priorizar a sustentabilidade econômica e “esquecemos” – convenientemente (?) – a sustentabilidade ecológica, nós teremos, com certeza, uma bomba relógio sendo armada contra nós mesmos. E o que é mais grave, contra os ecossistemas do planeta, esses sim, nossos verdadeiros guardiões. Nós estamos equivocados. Não podemos lidar com as duas diferentes sustentabilidades – a econômica e a ecológica – dando prioridade para a econômica. Não é a tecnologia humana que sustenta a Terra! A artificialidade tecnicista  tenta copiar os sistemas naturais porque eles são a origem de tudo. Eles são o paradigma a ser seguido. Mas o que fazemos? Colocamos o carro na frente dos bois! E vamos nós por aí, nos vangloriando desse feito: que absurdo! Concordo que o “encantamento” tecnológico é uma realidade que atrai o homem. No entanto, podemos chegar à beira de um principício, admirar a paisagem, sem que tenhamos que nos atirar nele. Seria uma loucura! Não estamos negando o novo nem o desconhecido; mas essa busca, deve ser cercada de cuidados preciosos. Deixar extinguir milhares de espécies do planeta, por mera ganância especulativa é o mesmo que se atirar de um penhasco íngreme. Tem muita gente falando sobre sustentabilidade como se fosse uma coisa só, esquecendo que ela tem vários rostos. Se a lógica é semente, germinação. folhas, flores e frutos, por que estamos colocando os frutos antes das folhas? As folhas antes da germinação? A germinação antes da semente? O paradigma já existe e está aí para todo mundo ver. Vamos afirmar mais uma vez: nós viemos depois! O paradigma já existia e foi a partir dele que nós surgimos. Não podemos negar isso ou fingir que não sabemos! Não temos que inventar o que já existe. Só precisamos perceber o óbvio...