sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Aquecimento global e desastrologia: a ficha ainda não caiu !


Colaborador: Roberto Rocha

Começou a esquentar outra vez. No entanto, ao contrário do aquecimento global, a discussão na África do Sul foi chuva muito fina. Novas promessas de que as promessas anteriores serão revistas para que novas promessas sejam feitas. A grana não caiu! Enquanto isso, em Belo Horizonte, choveu em cinco horas o que era esperado para cinco dias. E tome inundação, e tome desabamentos, e tome desabrigados. Já está ficando cansativo ficar falando das mesmas coisas no verão. E a casa caiu!  A vitivinicultura tomou uma série de pedradas geladas no Rio Grande do Sul e os prejuízos são relevantes. O gelo caiu! As estruturas metálicas de galpões no Brasil terão que ser recalculadas para resistirem a maiores pesos em telhados e ventos mais fortes. Quem não acreditar, vai pagar para ver. E o teto caiu! As áreas de risco já não são mais de risco, são de certezas claramente anunciadas. E a encosta caiu! Ninguém aguenta cair tantas vezes! Ou será que aguenta! Lembro bem que há alguns anos falava da necessidade de estudar "desastrologia" e algumas pessoas me perguntavam: o que é isso? Falava que a Defesa Civil tinha 118 símbolos que deveriam ser conhecidos nas escolas, e as pessoas falavam: as crianças precisam é de comida e de diversão: "não devemos ficar falando de desgraças climáticas para alguém que mal começou a vida". Realmente, as consequencias das mudanças do clima já não são apenas comentadas: elas estão acontecendo na nossa cara!. E a ficha ainda não caiu. No ano que vem teremos a Rio+20.  Posso parecer um tanto pessimista,  mas as notícias estão aí ! Os fatos estão aí! O que falta para se levar em consideração que temos sim que valorizar e preservar o funcionamentos dos ecossistemas ?. Precisamos falar muito de "serviços ambientais". Mas não aqueles pagos por empresas que prestam serviços !  O ar mais quente anuncia que os insetos ficarão mais agitados. Vão se reproduzir com maior rapidez. Suas larvas também. Algumas doenças  aumentam suas incidências nos períodos mais quentes. Por enquanto, estamos falando de dengue. Escorpiões e aranhas estão em alerta.  Cupins e formigas também. Bactérias e virus ficam mais agitados. Uma coisa devemos aprender: a Natureza não aceita dinheiro, mas cobra caro...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Violadores de túmulos e comedores de cadáveres?



Colaborador: Roberto Rocha

Estava refletindo sobre o modo de lidar com os mortos humanos. Ainda me lembro dos "enterros" na minha infância, quando o defunto era velado - cercado de velas - numa mesa central, na sala principal da casa, com as pessoas encostadas nas paredes, sentadas nas cadeiras, espalhadas  aqui e ali, entre comentários diversos, silêncios e lágrimas. Água com açúcar para acalmar alguém, afagos, olhares compreensivos. Se o morto era do tipo "divertido", não raro, rolava até um certo clima de alegria. Na hora devida, parentes e amigos mais íntimos seguravam as alças do féretro, que seguia pela rua principal em direção ao cemitério local. Comerciantes baixavam suas portas pela metade, em sinal de respeito, enquanto outros tiravam o chapéu. Pelo caminho, uma verdadeira procissão ia se formando, dependendo do "prestígio" do falecido. Capela, flores, encontros antigos - alguns não muito amigáveis - olhares desencontrados, passagens vividas, elogios, críticas disfarçadas, orações, discursos, desmaios.  Hora da despedida: mais lágrimas e ambiente tenso na hora do fechamento. Coroas e  saudades dos amigos; a caminhada silenciosa, e a cova aberta. O pó branco da paz e as pétalas de rosas. Mais lágrimas e ambiente mais tenso ainda. A percepção derradeira da perda e do que realmente somos: frágeis criaturas com prazo de validade mais ou menos conhecido. Cordas, tampa, cimento e a eternidade.  Alguns anotam o número da sepultura por diversos motivos,,,

Enquanto estava pensativo, na frente da TV, eis que um repórter anuncia um sério acidente ocorrido no mar. Uma imensa mancha de cor metálica é mostrada, com seu brilho fúnebre e pegajoso. De onde veio? Como chegou até ali? Para onde será que vai? De quem suspeitar? Após algum tempo, uma autoridade local faz a sua declaração oficial: estávamos diante de restos de milhões de defuntos que haviam sido sepultados num passado distante! Desconsiderando o seu direito de descançar eternamente em seus bolsões geológicos, alguém resolveu enterrar algumas agulhas na pele de Gaia para retirar seu sangue negro adormecido. Estamos abrindo caixões lacrados por muitos séculos. Incomodando quem já tinha cumprido sua missão. Despertando quem não desejava acordar mais. Quem não queria estar entre nós, outra vez. E agora? O que fazer com esses mortos tão antigos? Sem ossos, sem fibras! Eles não foram enterrados sem motivos! Não deveriam sair de lá. Alguma razão deve existir para que tenham sido guardados tão profundamente. Por que desrespeitar tal destino? Se violar túmulos é um sacrilégio, o que se dirá de revolver milhões de defuntos, de uma só vez? Para que finalidade? Lucrar com eles? Será que devemos negociar corpos alheios? Acho que não deveríamos vender o corpo de nenhum morto, mesmo que ele não seja humano. Mas voce poderá contestar: mas o que são os frutos  e legumes que comemos todos os dias, senão mortos? Eu lhe responderia: mas as sementes estão vivas! E voce pode insistir: mas nós comemos carne vermelha morta! Comemos peixes mortos! Comemos frangos mortos! Finalmente vou concordar: somos comedores de cadáveres alheios! Não comemos coisas "podres", mas comemos cadáveres frescos de toda espécie. Nossa cultura sempre dá um jeito de transformar coisas desagradáveis em eventos especiais - quando interessa. Um esplendoroso jantar! Arte gastronômica! Pratos deliciosos! Tudo bem, tudo bem! Afinal não vou deixar de saborear meus cadáveres prediletos - de vegetais ou de animais -  por causa de um artigo desconcertante. Também não pretendo ser um violador de túmulos, por usar a energia de quem já morreu para "alimentar" meu carro. Nos ensinaram a respeitar apenas os cadáveres de humanos.  Algumas sociedades rezam antes de comer um alimento ou parte dele (cadáver), seu sustento.  Nossa cultura não valoriza este tipo de consideração. Muitas vezes nem sabemos o que estamos comendo realmente. Ficamos sentados olhando para a TV num restaurante, ou falando de negócios, problemas de família, criticando colegas ou o chefe, contando decepções e  tantos outros temas. Os mais sábios falam de coisas agradáveis, viagens, casos amorosos excitantes, novos empregos. A última coisa que estamos concentrados é nos cadáveres que deram os seus corpos para a nossa vida. Nós não os identificamos como tal.  Foram rotulados como "alimentos". Dá próxima vez que for comer alguma coisa, pense que "alguém" está doando para voce uma parte dele ou toda a sua vida. Se puder, agradeça-lhe! Faça da refeição um ato sagrado. Afinal voce também será cadáver um dia. E vai gostar  que alguém o valorize - entre amigos, antes que seja um excelente repasto para bactérias  e um incrível mundo de "degustadores" desconhecidos...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Rinoceronte preto africano (Diceros bicornis longipes) está extinto !

Colaborador: Roberto Rocha

A notícia de que uma das quatro raças geográficas do rinoceronte preto africano (Diceros bicornis longipes) está extinta, causa aos conservacionistas uma enorme frustração. Revela a nossa incapacidade de lidar com os interesses alheios escusos, ou frutos de tradições antigas, mantidas de geração para geração. Aperfeiçoamos tanto o extermínio biológico, que já conseguimos, até mesmo, eliminar ecossistemas inteiros. Pasmem: uma parte ínfima da população mundial tem acesso ou se preocupa com esse tipo de informação: lastimável, triste, desolante. Não estamos falando de perder alguns animais apenas; estamos falando de perder espécies complexas que possuem um significado indispensável para manter a riqueza genética da Terra e os seus serviços ecossistêmicas.  A natureza precisa dos genomas "para jogar o jogo da vida". Jogar é um termo conhecido por todos, mas não em termos ecológicos naturais. A grande maioria da população só entende jogos artificiais, influenciados pela propaganda, com imagens e sons, lindos, maravilhosos, todos bem intencionados. No entanto, as formas de vida, identificadas ou não, como as  bactérias, os fungos, os protozoários, as plantas, os animais e demais grupos taxinômicos ainda sob discussão, não fazem parte da lógica de mercado contemporâneo. Podemos aceitar a ideia de que existe um "esverdeamento" mundial, mas não passa disso. Não trará de volta o que já foi extinto. Estamos jogando para "diminuir" os prejuízos biodiversos, mas não estamos obtendo avanços significativos. Estamos perdendo o jogo. Digo  estamos, porque somos nós - ditos humanos - os mais prejudicados neste cenário. O planeta não vai ser destruído. Já repeti isso muitas vezes. O que vai ocorrer é que - através de um processo natural - haverá uma purgação das "irregularidades" óbvias e que possam "tentar" obliterar a tendência à homeostase. É a lei do pêndulo. Tudo retorna!. E quanto mais fortemente empurrado, mais fortemente volta. Depois, vai se acalmando, aos poucos, até que nova conturbação venha provocar, mais uma vez, o processo. Assim caminha a relação entre seres vivos e inanimados. Inocentes criaturas manipuladas por genes curiosos e inteligentes, testando e sendo testados, a cada momento, por tempos geológicos intermináveis. 

  Emslie, R. 2011. Diceros bicornis. In: IUCN 2011. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2011.2. <http://www.iucnredlist.org/>. Downloaded on 24 December 2011.

sábado, 10 de setembro de 2011

Não se pode amar aquilo que não se conhece




Colaborador Roberto Rocha

Se entre pessoas de uma mesma família, ou entre colegas e amigos, muitas vezes temos dificuldades de compreender o "outro", imagine quando este "outro" está distante, nunca foi visto, e precisa ser amado!?. Refiro-me ao "amar a natureza"; de onde viemos e da qual dependemos como criaturas frágeis e vulneráveis às mudanças da Terra, muito mais do que às mudanças econômicas. Mas o "sistema" nos ensinou que para sermos felizes e possuirmos uma boa qualidade de vida precisamos ter uma "gorda" conta bancária, um carro do ano, uma bela casa e tantas outras conquistas semelhantes. No entanto, em certos momentos, percebemos que, mesmo com tudo isso, está faltando alguma coisa. Quem sabe seja um retorno às práticas mais simples e puras? Ficar olhando um rio passar, as ondas de uma praia, as vozes dos pássaros ao amanhecer, as formigas carregando seus pedaços de folhas, descobrir uma perereca camuflada em meio à vegetação. Pode parecer estranho desejar coisas tão "insignificantes", quando as comparamos com os ambientes ensurdecedores de alguns espaços de festas, à inquietude das pessoas paradas no trânsito - apesar de possuirem um carro poderosíssimo. Ter um relógio que pode ser usado a 300 metros de profundidade sem alterar a sua precisão: ridículo! A maioria dessas pessoas jamais passou dos dois metros num mergulho "profundo". Mas o que importa é que o relógio possa ser "incomum" em relação ao que os outros fazem. Poder mostrá-lo aos outros e repetir que é algo "diferente". Valorizamos coisas que não possuem qualquer utilidade real, a não ser mostrar que "somos" ou "possuímos" algo diferente. Essa prática exclusivista vale também para a nossa relação com a "natureza". Nascemos cercados de paredes e alguns equipamentos artificiais (tanto o pobre, quanto o rico) e logo nos apresentam outras novidades coloridas articialmente: algumas dotadas de sons jamais ouvidos nas florestas originais. Formas e ângulos impossíveis de serem reproduzidos pelas plantas: bem-vindo ao mundo dos humanos tecnologizados! Logo logo, vamos aprender a ficar em frente de um retângulo brilhante, com uma resolução de detalhes que natureza alguma consegue imitar. Vamos comer em pratos redondos, duros e cheios de sinais e cores incríveis. Tudo é incrívelmente forte e arrebatedor. Não dá mesmo para comparar com a simplicidade do mundo natural e disfarçado. Vamos aprender que a escola é um excelente lugar para ficar lá por muitas horas ouvindo explicações  sobre como o mundo dos homens funciona, como trabalhar por oito horas seguidas para receber um salário no final do mês. Vamos aprender que os bancos agora vão até a sua casa e que voce não precisa se desgarrar da máquina e perder a oportunidade de estar mais presente nas redes sociais. Vamos aprender como o mercado de trabalho é algo tão sagrado como um deus. Que estar atualizado com as novas versões de programas avançadíssimos é vital para se manter empregado numa empresa de topo. As horas que temos para pensar, isolado do mundo, para meditar sobre "o que somos", para não ouvir nada e nem ninguém, são cada vez mais raras. Ou não existem mesmo! É zero! E assim seguimos em nossa trajetória, até que alguém vem nos "exigir": precisamos defender a natureza! E então vem aquela sensação de "nada" dentro da gente. Como defender ou gostar de algo que eu nunca vi? Como defender um macuco, um mutum, uma jacucaca, um jaguarundi? Quem são eles? Quais as suas cores? Que som saem deles? Como são as suas formas? As perguntas vão ficando sem respostas. No nosso cérebro primata só existem referenciais artificiais, construídos dentro da mais alta tecnologia, seguros, confiáveis. E nós achamos que deve ser assim mesmo. O nosso lado selvagem e natural foi assassinado com a maior das boas intenções! Levamos milhares de anos para forjar um cérebro complexo e exigente. Estamos agora simplificando tudo. Estamos nos emburrecendo com o excesso de estímulos. Somos uma criatura "natural" desejando viver e ser feliz num mundo "artificial". Nada mais paradoxal! E aceitamos tudo isso como "desenvolvimento". Mas que tipo de desenvolvimento? Para quem? Será que a nossa saúde mental está incluída nesse objetivo? Fico preocupado quando insistimos em forjar e manter situações completmenae estranhas  à nossa natureza animal. Vou torcer para que esteja errado! Que essas linhas sejam apenas um momento de desabafo de coisas que ainda não conheço bem, na minha santa ignorância. Gostaria de amá-las ! ... Mas  alguma  coisa dentro de mim diz que algo está errado, muito errado.  E essa coisa fica lá, me incomodando. E eu, tentando disfarçar... Querendo dizer: eu te amo! Mas como? A natureza tem sido um mundo estranho para muita gente. O mais perto que pode chegar dela é uma peninha pendurada na orelha. Ou na comida exótica que custa os olhos da cara num restaurante de luxo. A distância entre o "meu ambiente artificial " e o "verdadeiro ambiente natural" é imensa. Por isso, quando pedir para alguém amar a natureza, pergunte primeiro: voce sabe o que é um macuco, um mutum, um jacurutu? Se souber, ótimo! Boa parte do trabalho já está concluído. Se não souber? Arregace as mangas, meu amigo! Muito trabalho te espera !. Quem sabe até consiga despertar algum amor arrependido?...

domingo, 19 de junho de 2011

Nem Fukushima, nem Belo Monte: termossolar, a nova fonte.



Colaborador: Roberto Rocha

Certamente, como um apelo ao bom senso, mais do que uma comemoração pontual,  O Jornal do Senado do último dia 10,  apresentou o seu título "Especialistas defendem substituição de combustível fóssil por fontes limpas" (disponível em: <http://www.senado.gov.br/senadores/notSenamidia.asp?fonte=js&codNoticia=107304&nomSenador=Cristovam+Buarque>. Acesso em: 19 jun 2011. O título sugere que nós estamos usando "fontes sujas": o que é verdade! Abandonar o carvão e o petróleo, deixando-os somente em nossa história de degradação e poluição industrial seria algo espetacular.  O interessante desta reflexão é que ela surgiu por acaso: um passeio pelos quadrinhos viciantes da TV me mostrou, repentinamente, a imagem do senador Cristovam Buarque. Quem poderia deixar de ouví-lo? O tema debatido faz parte da Subcomissão Permanente de Acompanhamento da Rio+20. Vocês sabiam que existia tal comissão? Eu não sabia! Só mesmo a TV Senado para nos esclarecer o que ocorre no país. Mas quem é que assiste TV Senado? Todo mundo fala em História do Brasil como se fosse algo do passado. No entanto, no Senado, é feita a história do presente e do futuro. Alí estão os "fazedores" da história, representando cada um de nós, cúmplices dessa construção política e democrática, aflita pela ética e pelos princípios. Mas eis que o tema da audiência pública "Energia: para que e como",  toca num antigo deus iluminador: o sol! Justamente num momento em que se fala sobre opções polêmicas, como energia nuclear e hidroelétricas.  A energia solar é limpa, abundante e renovável. As termossolares não ocupam espaço significativo e  seria uma opção  interessante para o Brasil, até que se descubra algo melhor. De baixo custo, ela revolucionaria a região nordeste, historicamente esquecida. Essa nova revolução teria que rejeitar os modelos atuais de devastação que arrasam nossa biodiversidade, deletando segredos antigos. Um rico tesouro genético está por lá esperando ser descoberto, temendo ser afogado. Eliminado por eficientes máquinas de espalhar a simplificação biológica, cuidadosamente programadas para atender - com prioridade - os interesses econômicos. Uma nova maneira de se desenvolver, com base na pesquisa dos nossos originais recursos naturais, traria uma esperança ecológica de boa qualidade. Um plano piloto termossolar indicaria ajustes e adaptações necessárias. Essas inovações, se acompanhadas de uma política severa de combate ao desperdício e preservação máxima dos ecossistemas naturais, contribuiriam enormemente, para o desenvolvimento do país. Contribuiriam, porque vai ser preciso uma grande mobilização para convencer os empresários de que essas soluções também são muito lucrativas, embora não atendam aos múltiplos  interesses imediatistas de outros segmentos que se aglutinaram em torno das matrizes fossilizadas. Contribuiria, porque vai ser preciso transferir incontáveis conhecimentos e práticas ecológicas para milhões de cérebros que estão hoje, 2011, ainda mamando sob os olhares esperançosos de suas mães.   Só nos resta mesmo esperar que o tema comece a ser divulgado com maior transparência e boa vontade. Afinal, o Sol nos viu nascer! Nos faz crescer! Mas poderá também iluminar o túmulo da nossa espécie. Enquanto isso, ele permanecerá supremo, como sempre. Brilhará ainda por muitos milhões de anos, com um malicioso sorriso. E nenhum remorso restará por quem não soube aproveitar suas calorosas e irradiantes dádivas...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Perda da biodiversidade brasileira: a discussão necessária inequívoca e desprezada


Colaborador: Roberto Rocha


 Em meio às conferências internacionais sobre desenvolvimento e meio ambiente – como se fosse possível separar uma coisa da outra – assusta a falta de prestígio inconteste, que sofrem a flora e fauna do mundo, em especial aquelas dos países tropicais. Discussões e desconfianças se repetem nos “calorosos” debates sobre o aquecimento global: afinal existe ou não um processo ameaçador em evolução, por  motivos atmosféricos afetados pelo modo de produzir do inquieto Homo sapiens? Mas existe algo que não necessita de qualquer pesquisa mais aprofundada nem científica. Instituições conservacionistas constatam que só aumentam suas listas de espécies ameaçadas. As primeiras 34 espécies da fauna ameaçadas no Brasil tiveram como documento oficial a Portaria IBDF nº 303/68. Cerca de 20 anos depois o então IBAMA, através da Portaria nº 1.522/89 indicou 206 espécies animais, em sua maioria, vertebrados. As Instruções Normativas MMA nº 3/2003 e nº 5/2004, listaram 627 espécies ameaçadas de extinção, sendo 130 de invertebrados terrestres, 16 de anfíbios, 20 de répteis, 160 de aves, 69 de mamíferos, 78 de invertebrados aquáticos e 154 de peixes. Perceba que estamos apenas falando de animais ameaçados. Não estão aqui as plantas brasileiras, fungos, protozoários. bactérias etc. Se todos fossem considerados a lista seria imensa. E por que se preocupar com criaturas perdidas  nos últimos fragmentos florestais do país? Por que motivo, preciso saber mais sobre o papel e a função desses organismos nos sistemas econômicos? A natureza é ainda vista como objeto de decoração, de exposição, de brincadeiras, que amenizam as duras e tristes notícias do cotidiano. Quem valoriza a biota (flora e fauna) como responsáveis insubstituíveis do desenvolvimento humano? Posso ver um poderoso carro do ano numa exposição internacional, mas não consigo ver os minúsculos insetos polinizadores que garantem a alimentação do planeta. Quem se importa com eles? Estão lá, trabalhando sem remuneração nem contratos de trabalho, cumprindo fiel e pontualmente suas “obrigações”. Quem os valoriza? São apenas abordagens sentimentais, poéticas, estéticas, mas não são definitivamente econômicas. Destruímos boa parte da complexidade ecológica necessária ao equilíbrio do todo, em nome de simplificações lucrativas imediatistas. Nós também fazemos parte da biodiversidade terrestre e dependemos da saúde dos ecossistemas atuais. A Terra não sabe que nós “resolvemos” ser algo mais do que um simples componente do sistema. Estamos desafiando um poder que ainda não compreendemos. Somos tão animais como qualquer outro bicho vivente. Não temos o privilégio que forjamos, egoisticamente. Ou cuidamos da biodiversidade para salvar a nossa espécie ou vamos ser excluídos num processo de depuração natural, já que não interessa para o sistema o “colaborador” que não veste a camisa e não torce pelo time.


domingo, 22 de maio de 2011

Por uma revolucionária economia conservacionista

 Colaborador: Roberto Rocha

Buscar novos paradigmas econômicos que substituam o capitalismo selvagem dos últimos séculos, inclui olhares para a Economia da Conservação:  uma forma de produzir sem desconsiderar os modelos homeostásicos naturais e bilenares do sistema Terra. Essa modalidade econômica vem se juntar à Biologia da Conservação e à Medicina da Conservação, ambas também focadas nos serviços dos ecossistemas e na saúde ambiental. Note que o termo conservação aparece em todas elas, e não é sem motivos, porque a natureza atua com bases em leis rigorosas, incluindo medidas econômicas altamente eficientes e eficazes. É muito provável que o nome “ecoeficiência”, utilizado como uma das matrizes do desenvolvimento sustentável, tenha sido adotado como mimético da verdadeira capacidade dos ecossistemas em não dissiparem energia desnecessariamente. Não custa lembrar que essa prática tecnicista é reducionista e não chega nem perto de uma verdadeira mega-economia planetária ou universal (assim como é em cima é embaixo: mas é preciso que os economistas dinossauros aceitem a máxima que faz tudo acontecer de forma ampla e irrestrita). Gaia nos dá aulas incríveis de economia natural em todos os lugares onde se possa perceber qualquer tipo de transformação, seja nas florestas, nos oceanos e, até mesmo em suas entranhas, onde embates de placas e de magma pastoso derretido promovem revoltas incríveis e “chocantes”. Se a economia tradicional engessada conseguir perceber o óbvio, vamos economizar tremendamente. A questão principal é que as empresas – muitas vezes – já sabem como economizar; e isso “pode não interessar” por outros motivos: políticos, amizades, acordos e porcentagens. Representam outras formas de lucrar, que não são exatamente “vivos dinheiros”, mas são “dinheiros vivos”. Um aperto de mão, um olhar, um sorriso, uma batidinha nas costas, podem ser agrados que direcionam e sinalizam negócios e valores. Mais do que questões econômicas ou ecológicas, são questões éticas! Falar de economia sem falar de ética, é chover no molhado! E até onde a ética tem sido considerada nas questões econômicas atuais? Apenas os contratos legais são suficientes para garantir uma correta transação? As leis sozinhas podem garantir uma justa negociação? Mesmo as leis, são propostas provisórias. São revogadas de tempos em tempos porque são incompletas e falhas. Nossas convicções também. Se uma cultura diz: mate!. Você mata! Se ela diz: salve! Você salva! Somos culturalmente coesos. Existe um “outro” que também decide, invisível, que não mora dentro da nossa mente, mas que nos comanda também. É algo pré-histórico e coletivista, lá do paleolítico, dos homens das cavernas, meio irracional. São as torcidas que gritam “gol” quando o “inimigo” é “abatido simbolicamente” ao vazar as traves,  no coração do adversário, sem sangrar. São as demonstrações agressivas de territorialidade nas periferias dos estádios, mesmo depois da “guerra” acabada. Uma coisa é a técnica e outra é a tradição. É mais fácil mudar uma técnica! Mas, e a tradição?  Podemos ter uma ótica pontual, mas de que vale a ótica sem a ética? O consumidor tem em suas mãos um trunfo letal. Mesmo afogado nas propagandas e nas técnicas de “fazer consumir” ele ainda é o “dono da festa”. Basta um aceno, e cabeças rolam!. Milhões de dólares vão pelo ralo com três letras e um til: não! Que poder infernal, este de um povo consciente, crítico e reflexivo! Já estamos falando de consumo ético, consumo responsável, consumo político. E por que não, uma sociedade ética? Economia sem ética é economia caótica. Vamos considerar as nossas “ticas”: as com “é” e as com “ó”. Quem sabe alinhamos também as nossas “eco”:  a “logia” e a “nomia”?   Quem sabe ainda podemos ser felizes, tradicionalmente?

domingo, 8 de maio de 2011

Envolvimento (fase1), des-envolvimento (fase 2), des-envolvimento sustentável (fase 3) e plena sustentabilidade (fase 4): assim caminha a humanidade...

Colaborador Roberto Rocha

Refletindo sobre a onda de "sustentabilidade" que cobre o mundo,  fui procurar no passado remoto da nossa espécie, quando foi que perdemos a ligação sagrada com a natureza e passamos a venerar o tecnicismo como nosso deus de cada dia. Revendo cenas imaginárias dos  costumes dos hominídeos primitivos, vamos encontrar nosso ancestral olhando para o fogo de uma mata próxima, já sentindo o cheiro da carne queimada dos animais. Passado o perigo incendiário e seguido de outros predadores mais originais, segue ele em busca de "churrascos" misturados com a cinza salgada do chão: uma verdadeira iguaria! Depois de comer muito, ele reflete se vale a pena levar alguns pedaços para o grupo distante, mesmo se arriscando a atrair outros comedores de carne mais possantes. Afinal, a carne tostada leva o cheiro mais distante do que o sangue coagulado. Desconfiado, mas não menos sábio, decide não se arriscar e come mais um pouco de modo que a energia poderá ficar guardada dentro do seu corpo e não atrairá a atenção de ninguém. Com ela poderá andar livremente, sem peso nas costas, e abater outra presa ou procurar alguma outra já recém-morta sem colocar em risco a sua curta vida. Me dou conta então que viajei no tempo e construí um cenário que bem pode ter acontecido; embora, nem todos os fósseis coletados possam descrever, com tamanha precisão, todos esses detalhes. Esse hominídeo vivia "envolvido" com a natureza e dependia dela todo o tempo. O homem era a própria natureza e não imaginava outra coisa, porque essa era a verdadeira realidade. Mas o que fizemos nós, passados alguns milhares de anos? Resolvemos ser independentes e tomar as nossas próprias decisões, carregando nosso cérebro com informações e pensamentos mais ousados. Aprendemos então a usar o fogo, no lugar somente de somente aproveitá-lo em eventos incendiários. Acho que foi aqui lançada a pedra fundamental da manipulação da tecnologia para nossos interesses direcionados. Novas armas e instrumentos nos levaram a conquistar  novos espaços e inventar novos meios de nos satisfazer de modo mais autônomo. Certamente, foi a partir daí, que tivemos a sensação de que nós seríamos os condutores do mundo. A Revolução Industrial nos daria um poder jamais visto em qualquer tempo. Mais satisfações e sonhos seriam atendidos e perseguidos. Aos poucos fomos nos "des-envolvendo" com as nossas raízes, e fomos buscar novas aventuras num mundo mais nosso do que do divino. O des-envolvimeto passou a ser uma prática comum, com cada vez, mais hominídeos se separando da vida natural. Essa euforia inicial nos lançou num círculo de produção selvagem e destruidora, até porque não conhecíamos as consequencias desses descaminhos. Fumaça preta era então sinônimo de riqueza. E realmente era assim!  Passamos a ter acesso a novidades incríveis! Que hominídeo pode resistir a uma novidade? Impossível! Somente alguns séculos depois é que passamos a reconhecer alguns enganos. Passada então a primeira fase (envolvimento) e a segunda (des-envolvimento), resolvemos acrescentar a palavra sustentável, mostrando já alguma sensibilidade e reconhecimento de que algumas coisas não tinham dado certo. Isto é, embora ainda desligados do mundo natural estávamos agora desejando sustentar somente algumas coisas essenciais, mas sem os exageros do passado avassalador. Com a entrada do século XXI, estamos agora nos encorajando para uma quarta fase - a da sustentabilidade autêntica. Isto é, uma compreensão mais apurada de que nós realmente não podemos viver separados da natureza e apenas nos locupletando dela, sem maiores cuidados. Já estamos percebendo - por causa dos prejuízos astronômicos acumulados com os recente desastres - que nós fomos longe demais em nossas "viagens" intelectuais e econômicas. Que precisamos sim, ser mais humildes e dependentes. Afinal, nós somos mesmo ambiente. Não poderemos ser máquinas ambulantes com cérebro pensante. Seria completamente anti-natural. Não acredito que isso possa trazer felicidade para qualquer pessoa. Somos pele, somos cheiros, somos sabores. Ninguém pode sentir nada com um beijo de lata, mesmo com  ilusões programadas. A proposta da sustentabilidade deve considerar essas nuances. Não poderemos passar de um pólo para outro tão rapidamente. Precisaremos de um tempo para sair do des-envolvimento sustentável  para a sustentabilidade ampla. Isso deverá nos pressionar a recuarmos em nossas intenções mais arrojadas: um grande desafio! Passado todo esse tempo e todas as conquistas, o homem permanece curioso e aventureiro. Como resolver isso? A questão é que no passado, tínhamos a natureza ainda tolerante com as nossas elucubrações. Agora, parece que ela não está muito satisfeita. Tem nos mostrado sua revolta por diversas vezes. Até onde podemos desafiá-la? Logo ela que tem um invejável currículo de vitórias e experiências, as mais desafiadoras, em quase cinco bilhões de anos? E nós, com apenas alguns milhares, quem sabe duzentos ou trezentos mil anos? Quem tem mais experiência? Quem sabe possamos recuar e convidá-la  para um novo envolvimento? Como o casal que se separa e volta? Quem sabe, ainda possamos ser felizes? O que fará acontecer esta união e retorno?  Um presente caro? Quem sabe seja deixar de ser tão petulante e ambicioso? Menos artificial e mais natural? Mais solidário e menos agressivo? Menos máquina e mais coração...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O QUE É MELHOR: usar combustível fóssil ou biocombustível?




Colaborador Roberto Rocha

Quando me fizeram essa pergunta, eu já ia respondendo que o biocombustível era renovável e o fóssil não era. Mas, depois de uma breve reflexão, afirmei: o melhor é usar o combustível fóssil!. Quando vi o espanto na face de quem me perguntou, fez acender meu alerta: acho que falei uma besteira! Imagine! Todos afirmam que o que vem da natureza é mais saudável e se renova! E agora, como explicar tal desacordo?  Lembrei então da definição do que é o petróleo: uma substância oleosa, de origem orgânica, resultado da decomposição de seres invertebrados que viveram num passado distante. Está aí o grande achado: o petróleo é de origem biológica, portanto é um biocombustível tanto quanto qualquer outro proveniente de um organismo vivo do qual se extraia energia. Mas então, por que tanta discussão? E qual seria  a tal vantagem? Pensei outra vez e respondi com convicção: petróleo é resultado das criaturas que desapareceram no passado e não deixaram descendentes, mas apenas seus corpos transformados. Sabemos que as espécies atuais vieram de espécies ancestrais, pela evolução, mas as formas recentes apresentam relevantes diferenças em suas aparências. Podemos pensar numa girafa e, ao mesmo tempo, num dinossauro de pescoço comprido, como se fossem parentes. No entanto algumas delas eram muito semelhantes, como no caso das tartarugas e jacarés. O amigo que estava comigo insistiu: e por que você é a favor de algo que tanta gente combate? Não é que eu seja a favor! Todo mundo afirma que a queima de combustível fóssil libera CO2 e agrava o efeito estufa, fenômeno conhecido como aquecimento global. Mas, continuei, embora o CO2 seja o vilão da história (?), existem atividades humanas que liberam outros gases (muito mais agressivos) que contribuem para esquentar o planeta, tais como as culturas de arroz – que liberam metano - e aqueles provenientes dos fertilizantes que cobrem o Brasil inteiro. As queimadas chegam a impedir o transporte aéreo em determinadas regiões do país. A questão central é que quando retiramos a energia de criaturas que já desapareceram, e que estavam “guardadas” a muitos metros de profundidade, nós não estamos causando erosão genética, isto e, não estamos matando a biodiversidade do planeta, porque ela já está morta. Não podemos omitir o fato de que a exploração de petróleo também elimina biodiversidade recente, como ocorreu no Golfo do México.  Entretanto, quando você planta - deliberadamente - cana-de-açúcar, soja, milho, mamona e qualquer outro vegetal para implantar monoculturas, você precisa retirar a floresta - porque essas plantas são de crescimento rápido, precisam de muito sol e não crescem debaixo de sombra,  como ocorre com o cacaueiro – que  nos fornece excelente chocolate, produto muito procurado. Na pecuária é a mesma coisa: as capineiras (capim para alimentar o gado) precisam de locais abertos e planos, bastante ensolarados. O gado precisa de espaço para circular e pisoteia tudo que estiver por baixo. Não há mata nativa que aguente tantas invasões. Embora o Brasil seja um país megadiverso – muito rico em biodiversidade – nós (?) preferimos criar e cultivar espécies de outros países que nunca existiram por aqui, como o boi, o cavalo, o porco, a galinha etc.  A grande maioria é importada, para gerar lucro rápido. As nossas espécies (indígenas, autóctones ou nativas) são pouco conhecidas ainda para se saber se poderão substituir  com vantagens essas espécies alienígenas ou exóticas. Falta pesquisa e investimento pesado. Entendo que não se queira trocar o certo pelo duvidoso, mas no passado, tudo era incerto também.  Ocorre que as espécies brasileiras podem servir não apenas para produzir energia e pasto para gado em espaços devidamente controlados. Elas podem significar bases químicas importantes para a medicina, oferecendo novos antibióticos, antihemorrágicos, antidepressivos, anticancerígenos, analgésicos e tantos outros, sem que se tenha que destruí-las, como vem ocorrendo intensamente. Muitas desaparecem sem serem ao menos identificadas. As listas de espécies ameaçadas aumentam no mundo inteiro e não mostram sinais de restauração. Os poucos sucessos obtidos para salvar alguma espécie da extinção, são alardeados como que se estivéssemos agitando, desesperadamente, uma bandeira de alerta para o resto do mundo, impassível e imediatista. Uma floresta com todos os seus componentes devidamente funcionais precisa de alguns séculos para alcançar seu clímax. Como apresentar tal discurso num mundo de fibras óticas e computadores que trabalham na velocidade dos nossos pensamentos? Meu colega ficou meio triste, depois da explicação e me disse: mas o que estamos fazendo então é uma imbecilidade! Eu pensei outra vez: não tenho muita certeza. Quem lida com aspectos econômicos de grande alcance, tem acesso a informações que a maioria da população ignara não tem. Não são imbecis. A questão não é só de conhecimentos. Existem outras motivações próprias do homem, para enfrentar desafios, novos caminhos e conquistas que não podem ser esquecidas. Somos primatas curiosos, queremos mudar o mundo que nos cerca. No entanto, acredito que ainda não estamos completamente insanos para desejar a nossa própria morte e a dos nossos filhos e netos. O problema é que a natureza é lenta, mas muito competente. Estamos subestimando suas forças. Ela não vai perder essa parada! Estamos cutucando o diabo com vara curta. Ela, de tão generosa que é, já vem nos alertando para as consequencias de nossas escolhas equivocadas. Nós, continuamos a ignorá-la, como deuses supremos que não precisam de conselhos. Ela, paciente como sempre, vai esperar, até que tudo volte a ficar como sempre foi...

domingo, 27 de março de 2011

AFINAL: O QUE É SUSTENTABILIDADE?



Colaborador Roberto Rocha

Sustentabilidade é uma intenção louvável que precisa ser complementada com a indicação de um setor melhor definido. Já ouvi, muitas vezes: o Brasil é um exemplo para o mundo, em relação à sua legislação ambiental! Com certeza! Temos muitas leis que “protegem” a natureza. Mas quando você verifica a aplicação prática dessas mesmas leis, descobre que ainda estamos muito longe de uma realidade ideal. Se desejarmos realmente realizar alguma coisa será preciso que, ao lado dos discursos teóricos, possamos colocar em prática as orientações preconizadas. E como fazer isso?

A sugestão que oferecemos é a seguinte: sempre que desejarmos iniciar uma ação sustentável, que ela identifique - de imediato - qual a orientação legal pertinente, que pode ser oriunda de alguma política nacional já regulamentada. Por exemplo, para a sustentabilidade hídrica devemos começar conhecendo a Política Nacional de Recursos Hídricos e outras normas que possam estar relacionadas a ela; para a sustentabilidade de práticas educativas relacionadas ao ambiente, vamos começar conhecendo a Política Nacional de Educação Ambiental e outras normas relacionadas a ela; para a sustentabilidade climática, devemos começar com a Política Nacional de Mudanças Climáticas; para a sustentabilidade ambiental  devemos consultar a Política  Nacional de Meio Ambiente; para as questões de saúde, começar com a Política Nacional de Atenção à Saúde, o próprio Sistema Único de SaúdeSUS e outros mais. Muitas questões ambientais foram orientadas também pelas contribuições de muitos pesquisadores em conferências internaacionais. Voce lembra da ECO-92?

A partir de orientação nacionais, passamos para o nível estadual, em busca de POLÍTICAS ESTADUAIS e outros documentos da mesma área.de interesse. Fazer o mesmo procedimento. Na terceira etapa, vamos examinar o PLANO DIRETOR, já a nível municipal. Dessa forma teremos todo um embasamento legal das ações de sustentabilidade divididas por grandes áreas ou setores mais específicos conforme os recursos disponíveis, seja de equipamentos, de capacitação ou  de gente. Muitas vezes temos gente, mas as pessoas precisam de capacitação. Ou ainda: temos gente, poder  de capacitação, mas não temos equipamentos. E ainda mais. Temos gente, temos poder de capacitação, temos os equipamentos mas não temos motivação. É um grande desafio na verdade, juntar todas essas possibilidades.

No entanto, entendo que há um caminho viável. Não é nenhuma viagem ao Sol. As orientações já estão previstas na legislação. Depende sim de vontade política, seja do poder público, seja do privado. Se não existir orçamento para cumprir toda a legislação vigente, que se atendam as prioritárias em cada secretaria específica. O importante é que, na grande maioria dos casos, não precisamos de consultores internacionais ou nacionais para nos dizer o que fazer, simplesmente porque é desnecessário. Serão úteis em questões que não tenhamos conhecimentos especializados na área ou não exista nenhuma orientação legal a respeito. Por exemplo, podemos saber quais são as espécies nativas a serem plantadas nas margens dos rios de uma mesma bacia hidrográfica, simplesmente visitando um herbário (onde existem amostras de exemplares coletados em diversas áreas), consultando artigos científicos ou percorrendo áreas próximas com matas ciliares preservadas. O mesmo ocorre nas reservas legais.

Existem no Brasil divesos projetos, manuais e exemplos de sucesso de conservação de áreas degradadas. Prestar atenção porque para a conservação é possível fazer recuperação e/ou restauração. A RECUPERAÇÃO é uso de espécies nativas - não necessariamente daquele ecossistema específico - aliado a artifícios que possam atrair a fauna regional para o local, que contribua com a dispersão de sementes na área). RESTAURAÇÃO é feita com base exclusiva em espécies nativas, adaptadas e especializadas para cada ecossistema). Matas ciliares das áreas de preservação permanentes são constituídas por espécies nativas adaptadas a esses ecossistemas com base em milhares de anos de evolução. Nesse caso a vegetação original não pode ser substituída por espécies exóticas em suas funções específicas. Nem mesmo por nativas que não estão adaptadas às margens de rios, lagos, sob constantes encharcamentos (saturação de água no solo).  

Concluindo: para orientar a administração pública ou privada – sustentáveis - podemos contar com políticas e planos já existentes, e simplesmente, cumpri-los. O PLANO DIRETOR (como o próprio nome indica)  é quem direciona as ações das Prefeituras, com base ainda nas políticas estaduais, nacionais e documentos internacionais. Não temos que inventar demais. Muitas orientações já existem mas são negligenciadas. A propósito: você já deu uma olhada no PLANO DIRETOR do seu município para ver o que ele diz sobre alguma área que lhe interesse especificamente?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sustentabilidade econômica e sustentabilidade ecológica: quem depende de quem?



 Colaborador Roberto Rocha

Acompanhando a bola de neve da recente catástrofe japonesa (março, 2011) fico me perguntando: afinal para que serve tanta tecnologia? Fiz a mesma pergunta na ocasião do evento do Golfo do México quando o mundo todo assistia a série de tentativas frustradas para conter o vômito negro fossilizado das entranhas da Terra: certamente revoltada com tanta ganância e irracionalidade. O que queremos afinal? Provar exatamente o quê? Não me parece questão de necessidade urgente. Soa mais como uma onda galopante – tal qual um tsunami – que não respeita nada que tente parar a sua fúria indomável. Quem segura toneladas e toneladas de energia caminhante? Por coincidência ou não, a mesma energia está agora sendo liberada de forma invisível e sofisticada; fruto da genialidade humana, perigosamente curiosa. Depois que já instalamos algumas centenas de unidades nucleares semelhantes, estamos agora nos perguntando, tal qual pai ausente: onde foi que eu errei? Sempre achei estranho construir usinas nucleares sobre placas moles e irrequietas, tal qual as tectônicas. Mas não sou especialista no assunto. Entendo um pouco mais de bichos que se movem, e que comem diariamente a energia que precisam, como eu mesmo faço, animal dependente que sou. No entanto, nem sempre a ignorância científica significa ausência de bom senso. O que conta mesmo, no final de tudo, é sabedoria. Fiquei abismado quando li um artigo que contava o modo através do qual uma tribo “selvagem” planejava suas interferências na natureza. Os mais velhos se reuniam e perguntavam: isso que vocês estão propondo vai afetar a nossa sétima geração? Se a resposta fosse um “sim”, então nada seria feito, até que alguma outra idéia brilhante fosse apresentada para novo julgamento. E nós, humanos sabidos do século XXI, como decidimos nossas viagens? Você já sabe a resposta: nós decidimos pelo caminho do poder aquisitivo, não exatamente acompanhado do poder cooperativo. Quando insistimos em priorizar a sustentabilidade econômica e “esquecemos” – convenientemente (?) – a sustentabilidade ecológica, nós teremos, com certeza, uma bomba relógio sendo armada contra nós mesmos. E o que é mais grave, contra os ecossistemas do planeta, esses sim, nossos verdadeiros guardiões. Nós estamos equivocados. Não podemos lidar com as duas diferentes sustentabilidades – a econômica e a ecológica – dando prioridade para a econômica. Não é a tecnologia humana que sustenta a Terra! A artificialidade tecnicista  tenta copiar os sistemas naturais porque eles são a origem de tudo. Eles são o paradigma a ser seguido. Mas o que fazemos? Colocamos o carro na frente dos bois! E vamos nós por aí, nos vangloriando desse feito: que absurdo! Concordo que o “encantamento” tecnológico é uma realidade que atrai o homem. No entanto, podemos chegar à beira de um principício, admirar a paisagem, sem que tenhamos que nos atirar nele. Seria uma loucura! Não estamos negando o novo nem o desconhecido; mas essa busca, deve ser cercada de cuidados preciosos. Deixar extinguir milhares de espécies do planeta, por mera ganância especulativa é o mesmo que se atirar de um penhasco íngreme. Tem muita gente falando sobre sustentabilidade como se fosse uma coisa só, esquecendo que ela tem vários rostos. Se a lógica é semente, germinação. folhas, flores e frutos, por que estamos colocando os frutos antes das folhas? As folhas antes da germinação? A germinação antes da semente? O paradigma já existe e está aí para todo mundo ver. Vamos afirmar mais uma vez: nós viemos depois! O paradigma já existia e foi a partir dele que nós surgimos. Não podemos negar isso ou fingir que não sabemos! Não temos que inventar o que já existe. Só precisamos perceber o óbvio... 

domingo, 2 de janeiro de 2011

O feitiço contra o feiticeiro


Colaborador Roberto Rocha

Incrivelmente, o impacto econômico causado pela recessão mundial traduziu-se na maior bênção ecológica desse início de século: os níveis de poluição diminuíram. Outra vez, fica provado que nada acontece isolado. Somos sistemas integrados e dependentes. Não importa se os argumentos estão apresentados em suas modalidades antropofragmentadas: ambiental, econômica, social ou cultural. Nada pode ser resolvido separadamente. Nenhum cérebro econômico raciocina sem ar, sem água, sem nutrientes, sem estímulos naturais que justifiquem a existência da visão, do olfato, da audição ou do tato. É irreal! Nosso corpo foi codificado em bases e parâmetros da natureza. Precisamos do canto dos pássaros, do quebrar das ondas numa praia, de ouvir os ventos nas montanhas, das quedas das cachoeiras, dos bordos picotados de cada folha diferente, dos aromas das flores e suas cores. Sem essa riqueza, somos meros autômatos a serviço de sistemas simplificados e pobres, embora chamem a isso de “complexa rede tecnológica”. Não que eu seja contra ela. Longe disso! Se assim não fosse eu não poderia agora estar aqui expondo minhas leituras e percepções do mundo através de uma rede de computadores que pode chegar a qualquer parte da Terra. É uma ferramenta maravilhosa. Reforçando: é uma ferramenta! Por trás dela precisa haver um cérebro pensante e sensível às emoções, o que nos classifica como seres humanos biológicos. Não há como contestar esta realidade. Embora eu tenha aprendido, do ponto de vista acadêmico, que não devo radicalizar, gostaria de abrir aqui uma exceção. Não abro mão de me manter biológico. Inventar, criar, estimular, praticar qualquer coisa não biológica precisa estar, necessariamente, associado ao bom senso, à reflexão, à bioética, à sabedoria, porque acredito que estas qualidades fazem parte de nosso mecanismo natural de “viver em sociedade”. Se assim não for estaremos descendo ladeira a baixo, sem freio, sem cinto de segurança, sem “air bag”, sem seguro de vida, frágeis. O século XXI nos cobra um posicionamento definitivo, depois de toda a nossa história escrita desde antiguidade. Nossos ancestrais hominídeos primitivos do paleolítico não tinham esse tipo de preocupação. Os desafios para a sobrevivência humana eram outros. No entanto, a condição “biológica” não mudou em todo esse tempo e nem vai mudar. Então, temos aqui um problema: até onde nós humanos, seremos capazes de negar ou tentar substituir padrões naturais que forjaram a nossa própria origem? Você saberia qual o limite? O ano de 2009 está nos convidando à reflexão, mais uma vez. Já tínhamos participado de outras propostas semelhantes. Lembram da Conferência de Estocolmo (1972)? Da Conferência do Rio (1992)? Da Conferência de Johannesburg (2002)? Dos Objetivos do Milênio até 2015, entre outros? Dessa vez temos um tema central: o aquecimento global. Estampado nos meios de comunicação, nas discussões do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima, nos protestos de algumas ONGs. Mas uma questão me preocupa: onde ficou a saúde mental? Onde está a preocupação com as exigências naturais do cérebro humano? Imagine um computador sem informações e sem processamento. Ele seria totalmente inútil. Mesmo cercado de toneladas de ouro, corremos o risco de não poder usufruir de tudo isso que conquistamos tão rapidamente. Corremos o risco, desculpe o neologismo, da “demência tecnológica”. De uma sensação de vazio permanente, mesmo cercado de milhões de carros e prédios, de piscinas e de supermercados. No fundo, sempre seremos primatas sociais e dependentes cerebrais exigentes de uma percepção megadiversa. Ou reconhecemos isso, ou traçaremos um futuro incerto e perigoso. Que não terá como argumento principal toda uma história milenar de sentimentos e trocas com a “natureza”, de onde todos nós viemos, para onde todos nós iremos, afinal o que todos nós somos...

sábado, 1 de janeiro de 2011

Vamos ajudar a REVECOM !


O médico Paulo Roberto Neme do Amorim é um conservacionista nato que conheço  há meio século. Em sua luta para preservar a biodiversidade amazônica protege os recursos regionais e cuida pessoalmente dos trabalhos educativos e assistenciais envolvendo crianças, adultos e idosos, especialmente os mais necessitados. São raras as pessoas com o potencial e a bondade do Paulo, que admiro e respeito profundamente. Infelizmente o Brasil ainda não alcançou um patamar exemplar no cuidado com os seus ecossistemas mais significativos. A Mata Atlântica é um exemplo da devastação sofrida e capitaneada pela sede de produzir a qualquer custo, sem se preocupar muito com o destino das gerações futuras. Depois de séculos de degradação, estamos agora tentando compreender o que fizemos e o que causamos. No entanto, ainda teremos que lutar desesperadamente para salvaguardar, pelo menos, parte do que foi a nossa riqueza natural  Segue abaixo o apelo do Paulo Roberto que estou aqui copiando e rogando a todos -  que de alguma forma possam ajudá-lo - para entrar em contato urgentemente. Agradeço a todos que puderem contribuir. Muito obrigado, de coração.

Roberto Rocha

Segue o apelo do Paulo Roberto:

Inicialmente peço desculpas pelo incomodo. Não o faria se nossa situação não fosse particularmente grave.


Há cerca de treze anos, quando da criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural REVECOM, sofri muitas críticas e descrédito por parte das pessoas. Permeamos a RPPN REVECOM ao público em geral.

Nossas atividades, sem anúncios foram disponibilizadas a mais de trinta mil pessoas através do PEACE – Programa de Educação Ambiental, Cidadania e Espiritualidade e quase mil animais silvestres receberam atendimento humanitário no PVAFS – Programa Voluntário de Atendimento à Fauna Silvestre.

Através de uma taxa ambiental os visitantes colaboram com a manutenção do espaço e o atendimento gratuito à população carente, deficientes visuais e cadeirantes. A receita gerada é aplicada exclusivamente na RPPN, pois sua mantenedora não possui atividades comerciais exceto aquelas necessárias para o bom funcionamento da RPPN.

Em momentos de crises financeiras pessoas e empresas nos apoiaram com doações e convênios de cooperação. O Estado e o Município de Santana estabeleceram convênios.

Uma década após a criação, a RPPN REVECOM é uma Unidade de Conservação do estado do Amapá muito conhecida a nível nacional e internacional, conforme uma pesquisa na WEB. É visitada devido aos programas socioambientais e culturais desenvolvidos.

A RPPN REVECOM não é um espaço comercial é um espaço ideológico onde declaramos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Foi construído e é mantido com o árduo trabalho dos seus idealizadores e família, empregados, voluntários e outras pessoas e empresa que comungam com seus princípios ecocêntricos e fundamentos de uma adequada educação ambiental, com base na Carta da Terra, visando um mundo melhor. Infelizmente, porém, estamos enfrentando uma nova crise financeira.

O fechamento do orçamento do Estado do Amapá, em NOV 30, devido à transição de governo, prejudicou a renovação/aprovação de novo projeto semestral para a RPPN solicitadas em novembro. Os procedimentos estão suspensos até a abertura do orçamento 2011, o que representa menos oito mil reais nos já combalidos recursos disponíveis mensalmente, o que é catastrófico para a RPPN.

O valor que se ausenta representa cerca de 61% dos recursos de convênios de cooperação firmados. Passar para 2011 tal ajuda, em prazo ainda não definido, afeta gravemente a essencialidade dos serviços prestados pela RPPN: o PVAFS, hoje atendendo mais de 500 animais o PEACE e o importante custeio da mão de obra cativa.

O repasse semestral realizado pelo Estado, em junho de 2010, exaure-se nesta primeira quinzena de dezembro, nos projetando num vórtice de problemas: o atraso do pagamento da mão de obra, dificuldades com a alimentação dos animais, dentre outros.

Reconheço que, recentemente, o GEA tem sido um parceiro exemplar e que ainda nos ajudará muito, pois existem recursos em caixa, das medidas compensatórias, que poderão ser usados para custear a RPPN ano a ano, ao invés de uma mínima ajuda semestral.

Constrangido, coloco meu pedido de ajuda para V. Sa. que já esteve aqui e conhece nosso trabalho. Juntos, e com a sua doação, poderemos vencer mais uma crise, mantendo a RPPN REVECOM em funcionamento e em contínuo crescimento, espalhando conhecimento por todo lado, lutando por um mundo melhor.

Contamos com sua compreensão. Por favor, nos ajude a enfrentar esta fase que está nos projetando nesta lastimável situação.

Atenciosamente,

Paulo Roberto Neme do Amorim

Reserva Particular do Patrimônio Natural REVECOM, Santana, AP.

Gerente Técnico Voluntário e Guardaparque

Earth Charter Volunteer

www.revecombr.com.br ; http://rppnrevecom.blogspot.com/

pn.amorim@uol.com.br ; revecombr@bno.com.br

Tel: 55 96 3281.3849 Cel: 55 96 9971.2155


PS: As doações poderão ser depositadas na conta:

Conta corrente 52129-9

MANTENEDORA: AMORIM E AMORIM LTDA EPP – CNPJ 01.477.979/0001-56

Agência 3346-4 Banco do Brasil

Entre o solo e o inferno

Colaborador Roberto Rocha

A cada dia aumentam os prejuízos causados por erros humanos e as mudanças climáticas em todo o mundo. A partir de agosto de 2010 preocuparam os incêndios em Portugal e Espanha. Na Rússia, por causa das queimadas, as exportações de trigo sofreram restrições para não prejudicar seus estoques estratégicos e o consumo interno. A fumaça cobre Moscou e as pessoas usam máscaras. E os eventos ainda continuam.

No Brasil, os prejuízos causados com os incêndios já são enormes. No próximo ano a situação pode ser mais séria ainda. A temperatura média do planeta vem aumentando, paulatinamente. Esse fato, nos leva a pensar numa umidade do ar muito baixa e mais matéria seca disponível.

É verdade que sempre tivemos variações de temperatura na história da Terra, mas elas não afetavam tantas pessoas ao mesmo tempo e nem tantas monoculturas ensolaradas e quentes. As florestas protegem a água e ajudam a manter a umidade do ar elevada, mantida através de suas sombras generosas e frias.

Muitas cosas mudaram. A população mundial era bem menor. Não tínhamos cidades-sem-fim com seus imensos blocos de concretos e ferro, encarreirados, fumegantes. E nem tantas avenidas barulhentas durante a semana: verdadeiros cemitérios aos domingos, onde ratos e baratas se arriscam a sair dos esgotos gaseificados e silenciosos, para um merecedor repasto. As noites dos fins de semana deixam muitos resíduos nutritivos e interessantes.

Não víamos tantas áreas devastadas sendo ocupadas por monoculturas intermináveis e “queimadas para limpeza” dos excessos fibrosos que atrapalham o ganho lucrativo do pó branco, o açúcar; ou do líquido energético, transparente e puro, o álcool.

Com a fumaça, os olhos ardem a nos indicar a agressividade do ambiente hostil, mas nem sempre nossas narinas, viciadas nos corriqueiros cheiros tóxicos, conseguem nos alertar, eficientemente.
Nas cidades próximas, crianças e idosos tossem e tossem, tentando arrancar as poeiras agarradas nos cílios desidratados do aparelho respiratório. O que será que estamos construindo como sinônimo de qualidade de vida ?

Se nós - tão civilizados e tecnologicamente corretos - sofremos tudo isso, imaginem as plantas e animais indefesos que convivem nesse mesmo cenário.! Quem os protege? Quem lhes oferece o oxigênio ou o alívio de suas crises asmáticas asfixiantes na dose certa?

Alguns locais do Brasil central, nessa época em que chove menos, se parecem com situações do deserto de Sahara, no norte da África, onde numa umidade entre 10% e 15% só sobrevivem os organismos altamente adaptados a essas situações extremas.

O fogo se espalha e cresce; crispa e avermelha o céu pontilhado de fagulhas e leves plumas pretas flutuantes. Atordoados e indecisos alguns animais procuram se safar como podem. Os que têm pernas compridas, correm. Os que se arrastam e pulam são mais lentos e enfim engolidos pelo inferno quente. A pequena rã vê sua pele tostar e perder a elasticidade vital e se transforma numa iguaria apreciada por outros ou numa bola preta carbonizada. Se não anoitecer logo, a secura do ar vai aumentar ainda mais. Mas o fogo parece se acender do nada, como uma mágica escaldante.

Um piolho de cobra (miriápode ou milipede) - com suas "mil" pernas - mesmo sendo tantas, não consegue progredir grande coisa. Se enrosca e se abriga inutilmente. O solo está quente demais para a sua ingênua pretensão.

Um caramujo terrestre (aruá) foge apressado procurando um abrigo onde o fogo não o alcance. Ou então, será lambido por uma língua vermelha e implacável. Morrerá em seu próprio envoltório, como um caixão natural, devidamente assado.

Poderia estar sendo servido num restaurante fino, como iguaria. Mas certamente não será temperado com alguma erva especial.

As aves de rapina cercam alguns outros seres desesperados, aproveitando-se do momento macabro para capturar uma presa fácil. Sua inteligência prodigiosa consegue enxergar e diferençar uma desgraça de uma dádiva.


Os condenados, asfixiados pela fumaça, batem nos galhos ou tropeçam aqui e ali, tentando se restabelecer, enquanto os talões ponteagudos e cortantes cravam fundo nos pulmões e fazem parar uma vida para fazer viver uma outra, mais bem armada, eficiente e eficaz. O cheiro dos cadáveres das plantas e dos animais se espalha e atrai mais predadores oportunistas.

O fogo passa e deixa um rastro de palitos pretos em seu caminho, rodeados de uma fuligem fina que o vento vai levando, aos poucos. Depois, só as brasas.

Alguns abnegados da brigada de incêndio combatem o fogo, abafados e abafando aqui e ali, sem água por perto, com parcos recursos, na tentativa de conter o gigante devastador que vai conquistando território ajudado pelo vento e a ausência da chuva redentora.

O jeito agora é esperar a estação das chuvas e aguardar o que poderá brotar naturalmente, depois de um longo sono sazonal. Se conseguir resistir ao fogo provocado pelo homem e aos incêndios naturais ajudados pelo ar seco, a biodiversidade terá alguma chance outra vez. Até que a terra se torne totalmente estéril, e nem mesmo o homem possa criar nela um novo inferno. E tudo ficará sem graça, sem cadáveres queimados, sem odores e sem predadores. Sem gado, sem capim, sem gente, sem floresta. Só a areia branca e alguns ossos esturricados, testemunhas da nossa irracionalidade e ganância, desenfreadas.

Crescimento pibiesco alienado - CPA

Colaborador Roberto Rocha

Já tinhamos falado um pouco sobre a invasão poluidora das siglas no artigo "Nosso Futuro Incomum: descompromisso com o amanhã"  do marcador Educação socioambiental e sustentabilidade. Mesmo com a consciência um tanto pesada, não resisti ao título e estou aqui contribuindo para a poluição sigliesca com uma única justificativa compensatória: contribuir para a reflexão coletiva. A questão é que sempre me incomodou muito o fato de se pautar o crescimento de um país, com base - quase que sagrada - no famigerado PIB. Nunca fui contra o crescimento humano, mesmo quando traduzido em conquistas tecnológicas, porque se assim fosse não seria sensato estar aqui usando uma máquina sofisticada em conexões artificiais. No entanto, acredito que o equilíbrio de qualquer sistema depende muito mais de reflexões do que de criatividade e inovações emparedadas. Qualquer criação precisa considerar a realidade do todo na qual ela está inserida. Leituras equivocadas podem estimular, despercebidamente, comportamentos padrões deletérios que não contribuem para a permanência de complexidades saudáveis.


Quando afirmamos que "uma planta cresce" voce pode ter certeza de que tudo que vai acontecer - a germinação da semente, a produção de flores e frutos, o envelhecimento do tronco, sua queda e seu apodrecimento - estará em acordo ecológico com o "todo" pré-existente. Isso porque existe um pano evolutivo que está por trás de tudo o que acontecerá. É como se existisse um pacto cósmico que se compremete a manter tudo e todos perfeitamente integrados, antes, durante e depois do que chamamos "morte". E como será que funcionam as teorias econômicas baseadas no Produto Interno Bruto? Até o nome é bruto, deseducado.  Será que se baseia na contribuição de cada setor perfeitamente integrado no todo?  Ou desconhece a realidade ao lado, da qual ele também é parte? Sempre sonhei com a possibilidade de  que os economista seriam, antes de tudo, grandes especialista em Ecologia. Eles seriam perfeitos, ou quase isso. Os ecologistas são economistas natos, porque a natureza funciona em bases econômicas. Só posso aceitar o tipo de desenvolvimento louco que incentivamos, a partir da premissa de que "nós é que determinamos participar dessa alienação e até nos especializamos nela". O crescimento baseado no PIB só considera as variáveis ecossistêmicas  pré-determinadas mas não as que seriam as mais importantes. Dessa forma, nosso crescimento pibiesco não é equilibrado. Ele é sempre provisório, com foco no lucro de minorias, enquanto o verdadeiro crescimento "ecológico" se baseia no equilíbrio da maioria. Alguns economistas já perceberam o equívoco e estão agora tentando sensibilizar a "elite" do século XXI para novos horizontes. mais criativos e menos autoritários em suas "teorias próprias". A  verdade é que não precisamos inventar muita coisa, mas apenas transferir as regras da natureza para as nossas regras acadêmicas. Antes de sermos primatas sociais, somos animais autênticos, dependentes das regras da Terra. A robótica não deve nos substituir, mas sim nos liberar para meditar profundamente sobre o que desejamos ser num futuro não muito distante.       

Futuro da biota em áreas ilhadas e simplificadas

Colaborador Roberto Rocha

Enquanto o aquecimento global preocupa o mundo com suas ameaças e prejuízos futuros, os animais continuam suas rotinas de sobrevivência em seus respectivos ecossistemas sem saber exatamente o que significa IPCC e sem ter visto o filme “Uma Verdade Inconveniente”, do Al Gore. Algumas espécies mais “resistentes” ainda sobreviverão por algumas décadas. As mais sensíveis sofrerão baixas significativas e estarão, em sua maioria, nas listas da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) numa de suas categorias: vulneráveis (VU), em perigo (EN) ou criticamente em perigo (CR), até que sejam extintas (EX) e ninguém encontre mais nenhum exemplar durante 50 anos.

Para a preservação de espécies diversas e dos ecossistemas dos quais elas dependem, contamos com as áreas protegidas, tais como as unidades de conservação, áreas de preservação permanentes (APPs), reservas legais e áreas indígenas. No entanto, mesmo essas áreas, estão ameaçadas por interesses econômicos exclusivos que alimentam um modelo econômico estimulado claramente pela obtenção de lucros rápidos. Mesmo algumas áreas vistas como exemplos de conservação, sofrem os impactos da insensibilidade e a falta de bom senso.

A Floresta Atlântica, ao invés de ser reconhecida por sua riqueza e variedade de formas, como era num passado não muito distante, é hoje o bioma mais ameaçado do Brasil e foi classificado como um dos 34 hotspots do mundo ao lado do cerrado (em degradação acelerada). Hotspot é uma área que está sofrendo agressões causadas por atividades humanas desregradas e que necessita de intervenções urgentíssimas para sua preservação. Basta visitar o Parque Nacional da Tijuca e o Parque Estadual da Pedra Branca no Rio de Janeiro, por exemplo, para se perceber que ali já não existem mais nem os grandes predadores terrestres (onça pintada, onça parda) e nem os alados de grande porte (gavião real, gavião pega-macaco). Foram extintos.

Essas unidades de conservação de proteção integral não estão mais íntegras e encontram-se agora totalmente ilhadas, não permitindo uma troca saudável de material genético com outras populações mais próximas. Só as espécies que voam tem alguma chance. Mamíferos, répteis, anfíbios e insetos são literalmente “atropelados” pela ação humana. Ou ainda, pela gastronomia, pelos colecionadores compulsivos, na boca dos cães e nas garras dos gatos que vivem dentro e na periferia dessas áreas. Sem contar os “caçadores urbanos”, de fim de semana, com suas carabinas de pressão a impressionar seus filhos e amigos. Enquanto isso a fragmentação das florestas aumenta a cada dia. Vai ser difícil conter a urbanização. Onde estão os incentivos para estimular os estudos da fauna? O que estão fazendo as secretarias municipais existentes no bioma mata atlântica para minorar tais aberrações? As florestas estão cada vez mais vazias. A continuar assim, será muito fácil classificar as espécies nativas remanescentes. Isto é, uma meia dúzia de três… E com certeza, haverá um grande número de espécies exóticas, tranquilamente instaladas e proliferando por aí. Já está acontecendo...

Nosso futuro incomum: descompromisso com o amanhã?


Colaborador Roberto Rocha

No outro dia, achei num sebo em Niterói (RJ), um livro que eu já tivera, - comprado na Fundação Getúlio Vargas - no Rio de Janeiro: Nosso Futuro Comum – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1a  ed. 1988; 2a ed. 1991). O título original em inglês “Our Common Future” (1987) foi mantido, diferentemente do que costumamos ver com alguns filmes, em improvisações horríveis e pouco criativas. Embora a intenção tenha sido louvável, nós não alcançamos os resultados alardeados nos quatro cantos do mundo. O futuro continuou a ser uma incógnita num planeta globalizado e tocado pelo capitalismo desatento. Por questões de soberania, até entendo que não se pode “enfiar garganta abaixo” qualquer proposta, por mais interessante que aparente ser. Estão envolvidos nisso, interesses atuais, tradições seculares e crenças milenares. Resultado: não deu certo!. Pode realmente ter influenciado o pensamento de uns poucos, elitizados. O “povão”, como costumam tratar, continua correndo atrás do “dinheiro da passagem”, da “dívida no cartão”, do sonho de “uma casinha para morar”, de “não levar bronca do patrão” por ter chegado atrasado, se “ vai dar praia no final da semana”, “se o timão vai ser rebaixado” e tantas outras situações semelhantes. E então começam a aparecer diversas “terminologias estranhas” na televisão, nos jornais e revistas, do tipo: “Relatório Stern” (será sobre algum novo desfalque descoberto pelo Polícia Federal?); IPCC (será uma nova facção?); CEO (lugar onde vivem os anjos?); REDD (marca nova de roupa?); Objetivos do Milênio (nova novela das oito?); COP 15 (algum novo festival de bebida?): quem agüenta tanta sigla? A propósito: você - possivelmente uma pessoa “letrada” – sabe o que significa exatamente cada termo desses? Se sabe, parabéns! Se não sabe, prepare-se para os novos termos e siglas que certamente surgirão nos próximos anos. O fracasso da Convenção de Copenhague vai exigir muita imaginação para que cada país desenvolvido tente explicar por que não vai “co-operar”, isto é, por que vai continuar a “operar sozinho”, sem sacrificar as magras (?) economias que tocam ao seu disputado pedaço de bolo global. A preocupação maior é com os prejuízos previstos. A economia brasileira segundo o EMCB (você sabe o que é?) - disponível em: http://www.economiadoclima.org.br/ - corre o risco de perder, caso nada seja feito, a singela quantia de R$ 719 bilhões ou R$ 3,6 trilhões em 2050 (precisão é tudo!). Será que poderemos fazer revisões a cada cinco anos? As regiões mais afetadas serão o Nordeste e a Amazônia, conforme já apontaram alguns cientistas É claro que o calor, a seca e o excesso de água são fatores estressantes muito bem conhecidos e que derrubam qualquer planejamento para a agricultura. A geração de eletricidade também poderá sofrer defasagens. No entanto, acredito que será nessa área onde teremos mudanças positivas e que poderão contribuir para que as perdas não sejam tão intensas. O mais lamentável (?) mesmo, não será a perda das monoculturas e do gado, mas a perda da biodiversidade indígena (nativa) brasileira, ameaçada especialmente por mega-projetos que podem não atender exatamente às regras da natureza. Somos ainda muito ignorantes em conhecimentos básicos até mesmo sobre um só bioma! Imagine todos os biomas brasileiros funcionando e trocando energia e matéria, ao mesmo tempo? É uma verdadeira loucura!. Mas agora pense também que existem mudanças globais que podem afetar tudo isso ! Tenho um certo pavor quando falam de “adaptação” porque aprendi que esse fenômeno é muito lento. É preciso acreditar muito na engenharia genética como solução urgente para tais questões: e como fica o "princípio da precaução"?.  Outro sério problema será como organizar os deslocamentos de populações pressionadas pelas mudanças do clima: os refugiados ambientais. Mesmo que haja a possibilidade de que países “desenvolvidos” liberem tecnologia avançada para os países mais pobres, teremos que ter aqui um arsenal de “cérebros”. Precisamos estar prontos, esperando esses conhecimentos, capazes de compreendê-los e de aproveitá-los rapidamente, para não correr o risco de ficarem mais defasados ainda. Temos no país brilhantes grupos de cientistas que poderão ser mais incentivados a partir de novos recursos governamentais.Veja que não se trata de uma situação rotineira. É questão de crise de grandes proporções. Não poderemos estar errando em nossas previsões! Não haverá muito tempo para isso! Se as inundações do sul, continuarem a crescer – por culpa ou não do El Nino ou qualuqer outro motivo – as questões socioeconômicas poderão se agravar. Esperemos que seja somente um momento crítico que venha se normalizar logo. Como uma das medidas a serem tomadas, temos uma óbvia urgência: a de estancar o desmatamento da Amazônia. Deveríamos – ao mesmo tempo - investir maciçamente no reflorestamento de “áreas degradadas” e capacitação de comunidades, já pensando em alternativas de sobrevivência natural e menos dependente de monoculturas. Por exemplo, saber se é possível comer folhas de amoreira e de outras espécies florestais  – que cresçam rapidamente e cujos troncos “peguem de galho” sem precisar plantar sementes e ter que esperar mais ainda. Algo que uma comunidade ilhada possa obter como alimento (plantas aquáticas comestíveis?), sem depender tanto de estradas ou de aeronaves. Como purificar água, de modo seguro, para dessedentar as famílias isoladas em áreas elevadas? Durante enchentes, os animais da região também procuram as áreas mais altas; e isso pode gerar muitos problemas, especialmente doenças conhecidas como zoonoses, que passam de animais para o homem e vice-versa - a leptospirose que o diga!. Pessoas aglomeradas facilitam a passagem de virus, bactérias, protozoários  – de um indivíduo para outro - através de vetores (especialmente os insetos). A segurança alimentar também pode ficar comprometida: comer ratos não parece ser algo inviável numa situação crítica. O grande desafio que temos é que os sistemas naturais não seguem as regras econômicas humanas e, nesse momento, precisamos das duas. Já estamos nos preocupando com “mitigações” mas devemos também pensar em soluções mais “reais e palpáveis” que possam atender - mais rapidamente - uma enorme população de “pobres” porque eles certamente serão a maioria “em dificuldades”. Assisti ao filme 2012, no outro dia. Uma ingenuidade! Mas afinal, é ficção! E bota ficção nisso! Os “pobres” eram na verdade uma elite. Os que embarcaram eram mais especiais ainda. Os pobres “reais” nem apareceram! Eles são a maioria no mundo. Os animais da “arca” eram os que costumamos ver em jardins zoológicos: como se o mundo pudesse funcionar com essa ínfima amostragem!. Não percebi um destaque especial para salvar bactérias e fungos, indispensáveis decompositores na biosfera. Continuamos a entender o planeta constituído de individualidades e não de sistemas complexos. Quando olho para as estradas do país - e vejo os veículos circulando - lembro dos carreiros de formigas nas florestas, em suas correrias intermináveis. Elas se comunicam umas com as outras. Os veículos também obedecem a uma sinalização previamente conhecida. Mas quanta diferença nessas andanças! As formigas cortam as folhas das plantas doentes ou daquelas que elas já sabem que estão fragilizadas. Procuram então levar esse “alimento” para as suas "criações de fungos" e fazem reciclar o sistema com perfeição. Elas sabem que o que chamamos de árvore é apenas um momento provisório de matéria geneticamente programada. Que estão apenas transferindo o “ambiente” de um local para outro. Não possuem nenhuma preocupação - como nós humanos – com aspectos éticos de como tratar um moribundo ou um doente em apuros. No entanto, será que nós estamos, realmente, preocupados com a natureza? Nosso comportamento nesse caminho de muitos é compatível com uma solidariedade dita mundial? Estamos preocupados com o “outro”? Humano ou não? Essa pode ser uma reflexão necessária nesse momento de frustrações internacionais e de promessas vazias que enchem auditórios de personalidades. Pelo menos, o Brasil deixou um recado claro, mesmo sabendo das dificuldades que teremos para cumpri-lo. Foi o destaque da conferência no meio de tantos descompromissos. Nosso futuro só poderá ser comum num mundo onde a desigualdade não separe as pessoas de suas realizações e sonhos. Onde se respeite o ambiente tanto quanto o próprio homem, já que são uma coisa só. É dessa compreensão incomum que precisamos para o bem de todos, seja na forma de água, de planta, de animal, de gente ou qualquer uma outra...